Anderson Gonçalves da Silva
Doutor e professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Campus de Paragominas ““ PA, coordenador do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas ““ GEMIP
João Rafael De Conte Carvalho de Alencar
MSc. e professor de Agronomia da Faculdade Integrado de Campo Mourão (CEI ““ PR), doutorando em Entomologia Agrícola FCAV/UNESP e membro do GEMIP
O Brasil se destaca na produção mundial de feijão comum (PhaseolusvulgarisL.) e também por ser o maior consumidor, encontrando nessa leguminosa sua principal fonte proteica vegetal.
Entre os diversos fatores que podem ocasionar baixa produtividade da cultura do feijão no Brasil, o ataque de insetos se destaca e é prejudicial desde a semeadura, durante as fases vegetativa e reprodutiva das plantas até a pós-colheita, podendo ocorrer danos também aos grãos armazenados.
Danos
Dentre a gama de insetos-praga que acarretam perdas econômicas à cultura do feijoeiro, a mosca-brancaBemisiatabaci(Hemiptera: Aleyrodidae) merece destaque por ocasionar danos (ou injúrias) diretos e indiretos, que podem provocar perdas econômicas que variam de 30 a 100%, de acordo com os seguintes fatores: tipo de cultivo, estádio da planta, população do vetor (no caso de viroses), presença de hospedeiros alternativos e condições ambientais.
Os danos diretos são ocasionados pela sucção contÃnua de seiva, decorrentes da alimentação de ninfas e adultos que retiram nutrientes por meio do floema (seiva elaborada), o que acaba debilitando a planta, interferindo no seu crescimento e também aumentando sua suscetibilidade a doenças.
Além disso, neste processo estes insetos injetam toxinas presentes em sua saliva, provocando desordens fisiológicas ao feijão. Já os danos de forma indireta ocorrem por meio da excreção açucarada chamada de honeydew, ou “mela“.
Essa excreção serve como substrato para o crescimento de fungos saprófitas, do gênero Capnodium(fumagina), sobre folhas, flores e vagens, impedindo as trocas gasosas, como respiração e transpiração, e interferindo na captação de luz para a fotossíntese, o que culmina na redução da produção. Outra interferência da fumagina é que dificulta a ação de produtos fitossanitários, acarretando em maiores custos de produção à cultura.
No entanto, o dano mais sério causado pela mosca-brancadiz respeito à transmissão de vírus como o mosaico-dourado-do-feijoeiro e outros, com destaque para o seu biótipo B, por ser mais agressivo e eficiente na transmissão de viroses.
Estima-se que existam,a nível mundial, mais de 20 biótipos, e que somente as perdas geradas pelo mosaico-dourado-do-feijoeiro giram em torno de 80 a 100 mil toneladas do grão por ano, segundo dados do Agrianual. Isto acaba por inviabilizar a semeadura de feijão em áreas de alto risco da doença, além de dificultar a autossuficiência brasileira para a cultura.
Neste sentido, o controle microbiano, por meio da utilização de fungosentomopatogênicos, em especial a Beauveriabassiana, surge como prática importante dentro de um manejo integrado da mosca-branca no feijoeiro, como também em outras culturas.
A mosca-branca
A praga (que na verdade é um hemÃptero, e não dÃptero) é altamente polÃfaga, apresentando mais de 600 plantas hospedeiras, pertencentes a 80 famílias botânicas, dentre elas culturas importantes para o agronegócio brasileiro, como soja, algodão e frutÃferas em geral, dentre outras.
Essa gama elevada de hospedeiros também confere um problema, já que a mosca-branca se desenvolve em diversas plantas daninhas, o que dificulta ainda mais o seu manejo por se constituÃrem refúgio para a praga até que a cultura econômica, no caso o feijoeiro, esteja disponível.
Manejo
Para o manejo da mosca-branca de forma eficiente, o monitoramento dos plantiosde feijoeiroé de extrema importância, já que a praga apresenta alta taxa reprodutiva com a fêmea, depositando entre 100 e 300 ovos ao longo de sua vida, e mostra um ciclo biológico muito curto, em torno de 15 dias, além de apresentar sobreposição de gerações (presença de todos os estágios de desenvolvimento, ovo, ninfa e adulto ocorrendo juntamente no plantio), que são favorecidas pela alta temperatura e baixa precipitação, situação que favorece os surtos populacionais, acarretando num difícil controle.
Dessa forma, seu monitoramento pode ser efetuado pelo uso de armadilhas adesivas amarelas, visando a captura de adultos ou inspeção visual nas folhas, anotando-se o número de ovos, ninfas e adultos, observando se estas atingiram nível de dano para seu controle.
Destaca-se que, por ser vetor de viroses em feijoeiro, nesse caso um adulto por armadilha adesiva já requer a adoção de medidas de controle.