Produtores de café de todo o Brasil conseguiram transformar o mato em aliado ao utilizá-lo como composto orgânico
A utilização de compostos orgânicos é uma nova técnica que promove a atividade de microrganismos no solo, tornando as plantas mais resistentes às adversidades climáticas e, consequentemente, aumentando a produtividade em até 20%.
O estímulo à atividade dos microrganismos acontece por meio de produtos que promovem a bioativação do solo, ou seja, o resgate da vida que já existiu ali. A matéria seca, presente nos compostos orgânicos, ajuda a reter água e deixa a planta mais resistente. É possível, ainda, que esses mesmos compostos reduzam as aplicações de outros insumos ao longo do processo produtivo. No Brasil, estima-se que o uso de fósforo já foi reduzido em torno de 68% e o de potássio em 40%.
O uso dos compostos orgânicos, além de melhorar a produtividade, também melhorou a qualidade do café. Uma vez que a planta está bem nutrida, ela sentirá menos os impactos climáticos, refletindo na granação. Dessa forma, em algumas ocasiões, também é possível melhorar a qualidade da bebida na análise sensorial.
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Benefícios já conhecidos
O composto orgânico é um processo milenar, em que a matéria orgânica é trabalhada para melhor dispor seus nutrientes no solo. “Toda a matéria orgânica existente na propriedade,seja de origem vegetal ou animal, é passÃvel de compostagem. Mas, precisamos estar atentos a alguns processos primordiais nesse procedimento de compostagem, principalmente no que diz respeito à temperatura, umidade e aeração do composto para garantir uma compostagem bem feita“, pontua Eduardo Lima de Sousa, engenheiro agrônomo e consultor de café na região do Sul de Minas.
Ele levanta, ainda, a questão da granulometria do material, a relação carbono/nitrogênio e o processo aeróbico e anaeróbico da compostagem. “No aeróbico o processo é acelerado com a injeção de oxigênio, enquanto no anaeróbico o processo é mais lento“, esclarece.
De resíduo a adubo
Uma saca de 60 quilos de café beneficiado gera 55 quilos de resíduos, o que, multiplicado por grandes áreas resulta em uma quantidade considerável de folhas e casca de café. “O produtor pode aproveitar esse resíduo in natura ou em compostagem, como alguns têm trabalhado. Pode ser usado, ainda, como combustÃvel para a secagem do café“, detalha Eduardo Lima, acrescentando que na compostagem é preciso estar atento à relação nitrogênio/oxigênio.
Os compostos orgânicos podem ser aplicados separadamente, em cultivos orgânicos,ou misturados a minerais e cultivos não orgânicos. Outra opção é a interação dos fertilizantes minerais com material orgânico estabilizado por meio de um processo específico feito por empresas especializadas, obtendo-se o fertilizante organomineral, o qual possui uma maior eficiência agronômica.Mas, se o produtor optar exclusivamente pela adubação orgânica, o volume a ser colocado na lavoura será maior.
O consultor lembra que o incremento do composto orgânico com minerais tem apresentado maior eficiência no que diz respeito a ganhos de produtividade. A adição de composto orgânico ao solo contribui para a biologia dele e, com isso, a tendência é o aumento de produtividade.
A aplicação do composto orgânico na lavoura deve anteceder o período de maior demanda da planta por nutrientes, que é antes do período chuvoso. O ideal é que seja aplicado no mês de outubro para aguardar as chuvas no mês de novembro/dezembro.
“Por uma questão de logÃstica e de custo operacional, a aplicação do composto orgânico é indicada apenas uma vez por ano. Essa técnica objetiva a questão nutricional com a complementação mineral, e reduz custos“, aponta o especialista.
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O caso do cafeeiro
Para a produção de café orgânico usa-se apenas o composto orgânico, sem a adição de minerais, e nesse caso o volume do composto orgânico tem que ser maior para suprir a cultura nutricionalmente.
Para se ter uma noção de volume, é comum que produtores apliquem de seis a 12 toneladas de composto orgânico por hectare. Comparando com a adubação mineral, o volume aplicado por hectare seria de uma a duas toneladas.
Cuidados
Além de melhorar o solo,o composto orgânico beneficia o sistema como um todo. Entretanto, Eduardo Lima lamenta que no processo de preparo do composto orgânico ainda falte orientação aos produtores para fazer um material de qualidade. Por outro lado, o MAPA regulariza as empresas que trabalham com composto orgânico, avaliando a relação carbono/nitrogênio, que não pode ser acima de 18/1, e a umidade, que não pode ser acima de 30%.
Adotando o uso de compostos orgânicos o produtor ainda terá redução de custos da sua lavoura. “Os produtores ainda têm resistência ao uso de compostos orgânicos pela questão de logÃstica e o custo da aplicação desse material no campo“, expõe.
O manejo do composto orgânico traz um equilíbrio nutricional interessante, mas cada situação requer uma recomendação técnica. Com o equilíbrio nutricional da cultura espera-se aumento na qualidade do café também. Lembrando que, para a qualidade, fatores como a variedade e altitude da produção também interferem.