Angélica Araujo Queiroz
Engenheira agrônoma, professora e doutora do Instituto Federal do Triângulo Mineiro
A soja é considerada uma planta não acumuladora de silício (Si), porém, a aplicação de Si pode levar a um aumento no número de vagens por planta, da biomassa total, do comprimento e da massa de raiz.
O silício pode ser absorvido do solo por meio das raízes por fluxo de massa. Depois de absorvido, é transportado pelo xilema e depositado na parede celular na forma de sÃlica amorfa hidratada ou opala biogênica (SiO2. nH2O). Uma vez depositado, o silício torna-se imóvel e não mais se redistribui na planta.
Para a planta
As respostas à aplicação de Si podem ser potencializadas quando as culturas são submetidas a algum tipo de estresse. O Si tem sido associado, indiretamente, ao aumento no teor de clorofila e na capacidade fotossintética, à redução na transpiração e aumento na absorção de nutrientes.
Além disso, o Si proporciona plantas mais eretas, aumenta a resistência mecânica das células e das plantas a insetos e patógenos, diminui o efeito tóxico do B, Mn, Fe e outros metais pesados e aumenta a absorção de nutrientes.
O silício pode afetar a produção vegetal por meio de várias ações indiretas, como a melhor arquitetura das plantas (folhas mais eretas), e assim diminuir o autossombreamento e o acamamento.
Contra fungos
Um dos efeitos benéficos do Si que se sobressaem é o seu papel em reduzir a suscetibilidade das plantas a doenças causadas por fungos.Como a soja é considerada uma planta não acumuladora de Si, os efeitos observados na cultura são mais visÃveis a partir da aplicação foliar.
A aplicação de Si via foliar é a forma mais eficiente de aumentar o teor foliar de Si em plantas dicotiledôneas, proporcionando maior número de vagens por planta e, consequentemente, maior produtividade de grãos na soja. A aplicação de Si via foliar pode, inclusive, proporcionar maiores teores foliares de N, Ca e Si.
O fornecimento de Si na agricultura pode reduzir o uso de defensivos agrícolas, elevando a obtenção de produto de maior qualidade, além de gerar menor impacto ambiental nos sistemas de produção.
Tem sido constatado que o fornecimento de Si por meio de aplicação foliar, com o uso de pequenas quantidades do elemento, pode ser uma alternativa viável para o seu fornecimento às plantas, suprindo a necessidade de Si e/ou estimulando sua absorção, acarretando efeitos benéficos.
Mais produtividade
O aumento no acúmulo de fitomassa seca na fase reprodutiva é um fator determinante na produtividade das culturas e, no caso da soja, a aplicação de Si foliar pode elevar a produtividade de sacas por hectare.
O silício e a nodulação da soja
Como o Si está ligado ao metabolismo de compostos fenólicos, é possível o seu envolvimento na síntese ou em processos bioquímicos de isoflavonoides, relacionados à expressão dos genes que induzem à formação dos nódulos.
O Si tem potencial de aumentar a nodulação, o crescimento e a produção da soja. O aumento no fornecimento de Si às plantas noduladas induz ao aumento significativo no teor de N da parte aérea. Em leguminosas, como o feijão e a soja, o silício é reportado por aumentar a biomassa total, o comprimento e a massa de raiz, quando fornecido juntamente às raízes.
Em leguminosas que possuem o potencial para formação de nódulos, esse aumento no comprimento e na massa de raiz com a adição de silício poderia significar um aumento no número de sÃtios com potencial infecção por invasão rizobial, o qual poderia preceder um aumento na nodulação e na fixação de N2.
Quando aplicar
Na cultura da soja, as aplicações variam conforme o produto a ser utilizado, podendo ser parceladas a cada 20 dias do pré-florescimento até o enchimento das vagens e antes da aplicação de herbicidas pós-emergentes, ou em quatro aplicações realizadas nos estádios de V4 (três folhas completas expandidas), R1 (início do florescimento), R3 (início da frutificação) e R5 (início da formação da semente).
De forma geral, pode-se adotar também a aplicação de acordo com a escala fenológica da cultura, sendo a primeira aplicação feita no estágio de V8 (46 dias após a semeadura), a segunda em R1 (60 dias após a semeadura) e a terceira em R5.1 (88 dias após a semeadura).
Dosagem
As doses variam também de acordo com o fabricante do produto, ficando entre 0,5L ha-1 a 2L ha-1. Geralmente as aplicações são parceladas e o produtor deve sempre ler as recomendações de aplicação do fabricante, tendo assim mais sucesso na aplicação do silício.