A palha do café pode ser usada para várias finalidades, dentre elas a adubação orgânica. Há quem use como combustÃvel para secadores, como adubo orgânico, ou mesmo na venda para terceiros. Eduardo Lima de Souza, engenheiro agrônomo e consultor, explica que, como adubo orgânico, existem duas destinações. “In natura, ou após o processo de compostagem que usa a palha como composto orgânico, no plantio ou na própria lavoura“, relata.
Assim, a palha que sobra do beneficiamento do café, que poderia ser um problema por se tratar de um passivo ambiental, se transforma em solução para a adubação da lavoura.Para cada saca de 60 kg de café beneficiado são gerados 55 kg de resíduo, o que geralmente fica acumulado no local de preparo. O ideal, portanto, seria destinar essa palha de café para a lavoura ou para compostagem.
De problema a solução
Segundo o agrônomo, a palha acumulada em um ponto só causa problemas como a contaminação do lençol freático por nitrato. “A matéria orgânica em decomposição ou mineralização irá transformar o nitrogênio orgânico em nitrogênio mineral na forma de nitrato, concentrado em um ponto só. E isso pode contaminar o lençol freático. Além disso, outro problema é que a palha exposta ao tempo, e evidentemente sendo molhada por água de chuva, produz um líquido escuro, com altos teores de potássio, chamado popularmente de chorume,que pode cair em fontes de água e causar contaminação por excesso de carga orgânica, aumentando a DBO (Demanda BioquÃmica do Oxigênio) e a DQO (Demanda QuÃmica do Oxigênio)“, alerta.
Por outro lado, a palha do café como adubo orgânico traz vários benefícios, tanto físico quanto químico e biológico. Na parte quÃmica, Eduardo Limaassinala a melhora principalmente no nutriente potássio, que 70%da absorção pelo frutoficaretido na casca. “A casca ajuda também na retenção de umidade, maior agregação do solo, diminuiçãoda temperatura e melhora da atividade biológica“, considera.
Compostagem
De acordo com Eduardo Lima, o processo de compostagem é muito simples. “Basta colocar todo o resíduo que foi gerado na propriedade, não só palha do café, mas também outros resíduos orgânicos gerados, como a roçada do jardim, restos de outras culturas e acrescentar uma fonte de fermentação em camada. O melhor é que seja de origem animal, como de ruminantes bovinos, para dar início à decomposição realizada pelos microrganismos. Como o processo é biológico, deve ser monitorada a temperatura, a umidade e a aeração e ficar revolvendo essa massa por 90 a 120 dias, quando ocorre o processo de decomposição ou mineralização da matéria orgânica“, ensina.
Em termos de eficiência, ele garante que o adubo compostado a partir da palha de café é melhor do que a palha de café in natura como adubo orgânico. Além do mais, esse composto como adubo já umidificado pode ser utilizado direto na lavoura de café, tendo como base a palha da cultura. Entretanto, o agrônomo ressalta que é preciso, para isso, ter equipamento para o revolvimento da massa.
Tem que fazer
Os resíduos da palha do café são gerados apenas na época da colheita, que acontece por dois a três meses por ano, geralmente nos meses de junho, julho e agosto. “A palha,se não tiver um manejo adequado, poderá se tornar um problema para o cafeicultor, porque se ele deixar acumular na propriedade, e esse material ficar exposto por um período de tempo mais prolongado, pode entrar em autocombustão e pegar fogo“, avisa Eduardo Lima.
Mas, convertendo esse problema para a nutrição da lavoura, o produtor ainda consegue reduzir os custos com adubação, principalmente no que diz respeito ao potássio, um nutriente muito exigido pela planta e que estámuito presente na casca do fruto do café.
“O teor de potássio a ser aplicado por fontes minerais pode ser reduzido de 20 a 30%. E levando em consideração que o potássio é um elemento de alto custo, a vantagem é muito grande, sem contar o custo informal que seria de hora/máquina“, compara o profissional.
Versatilidade
A palha pode ser usada como adubo inclusive para outras culturas, sendo que muitos produtores fazem isso até mesmo por uma questão de logÃstica, visando reduzir o custo operacional.
“O maior problema da palha, principalmente na cafeicultura de montanha, é a logÃstica operacional para distribuÃ-la.Aplicar um volume desses manualmente é inviável e gera um custo muito alto, sendo que na época que o resíduo está sendo gerado o produtor está em plena colheita, que é seu foco. Entretanto, com planejamento o resíduo pode ser bem aproveitado“, considera o agrônomo.
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