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A importância das plantas de cobertura

Fernando Mendes Lamas

Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

fernando.lamas@embrapa.br

 

Crédito Alexandre Limberger
Crédito Alexandre Limberger

Como o nome já diz, as plantas de cobertura têm a finalidade de cobrir o solo, protegendo-o contra processos erosivos e da lixiviação de nutrientes, porém, não se limitando a isso, já que muitas são usadas para pastoreio, produção de grãos e sementes, silagem, feno e como fornecedoras de palha para o sistema de plantio direto.

Tão importante quanto a parte aérea das plantas de cobertura são as raízes delas. Os efeitos das raízes na produtividade agrícola ainda são pouco conhecidos, embora seja sabido da sua importância na construção do perfil do solo.

Algumas espécies de plantas de cobertura, como o milheto e as braquiárias, possuem a capacidade de reciclar nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas que serão cultivadas em sucessão e, no caso da maioria das leguminosas, como fixadoras do nitrogênio atmosférico.

Estas características das plantas de cobertura podem contribuir para reduzir custos de produção, especialmente com fertilizantes químicos, que além de impactarem o custo de produção das culturas para produção de grãos, fibras e energia, tratam-se de recursos naturais não renováveis.

Estratégia

As plantas de cobertura, quando adequadamente utilizadas, constituem estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além do mais, são essenciais para incrementos de matéria orgânica do solo, que é fundamental na dinâmica desses atributos supracitados que compõem a fertilidade do solo. Isso ganha mais importância em solos tropicais e intensamente intemperizados.

A capacidade produtiva do solo é altamente dependente do teor de matéria orgânica. Em geral, em áreas com altos rendimentos são observados elevados teores de matéria orgânica, importante para a maior retenção de água no solo, pela disponibilidade de nutrientes para as plantas e pela estruturação do perfil.

Além de contribuírem para a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, as espécies vegetais utilizadas como cobertura do solo auxiliam no controle de plantas daninhas, doenças, nematoides e pragas, beneficiando diretamente as culturas sucessoras.

Crotalaria é exemplo de uma planta de cobertura que auxilia no manejo do percevejo castanho - Crédito Sementes Piraí
Crotalaria é exemplo de uma planta de cobertura que auxilia no manejo do percevejo castanho – Crédito Sementes Piraí

Aliadas contra daninhas

As plantas de cobertura constituem importantes aliadas no manejo de plantas daninhas. O efeito delas no manejo de plantas daninhas se dá de várias maneiras, podendo-se destacar:

ÃœEfeito alopático – as plantas de cobertura interferem na germinação, emergência e no crescimento das plantas daninhas, quer por exsudados eliminados pelas suas raízes ou por substâncias liberadas quando da decomposição da parte aérea, impedindo ou dificultando a emergência e/ou germinação das plantas daninhas;

ÃœCobertura do solo – a cobertura proporcionada pelas plantas de cobertura se constitui numa barreira física que impede a emergência das plantas daninhas e limita a presença de luz, o que impede a emergência de algumas plantas daninhas, inclusive aquelas de difícil controle, como é o caso da buva. A Brachiariaruziziensis é exemplo de uma espécie de planta de cobertura muito eficiente no controle de plantas daninhas.

As plantas de cobertura também auxiliam no manejo de nematoides, um grave entrave da agricultura moderna. Crotalariaspectabilis e Crotalariaochroleuca são exemplos de plantas de cobertura que auxiliam no manejo dos principais nematoides que causam dano econômico às espécies cultivadas para produção de grãos e fibras.

Contra doenças e pragas

As plantas de cobertura também constituem importante estratégia para o manejo de doenças e pragas. As braquiárias são excelentes no manejo do mofo branco, doença que está se tornando cada vez mais grave em várias regiões, causando danos às culturas de feijão e algodão.

Crotalariaspectabilis é exemplo de uma planta de cobertura que auxilia no manejo do percevejo castanho ““ Scaptocoriscastanea.

A espécie de planta de cobertura a ser cultivada deve apresentar algumas características: ser de fácil estabelecimento; apresentar crescimento rápido; proporcionar boa cobertura do solo; não ser hospedeira preferencial de doenças, pragas e nematoides; permitir a colheita de grãos ou o pastejo animal no período de entressafra; apresentar sistema radicular vigoroso e profundo e produzir matéria seca em quantidade suficiente para a semeadura direta.

Sem receita

Não existe uma espécie de planta de cobertura que se adeque a toda e qualquer condição ecológica. Para cada ambiente, e dependendo da cultura sucessora, deverá haver um conjunto de espécies mais adequadas.

Um diagnóstico adequado das limitações atuais do seu sistema de produção também é estratégico para auxiliar na escolha das espécies com maior potencial de agregar benefícios para o sistema.

Como toda espécie vegetal, as utilizadas como plantas de cobertura exigem condições ambientais adequadas para seu crescimento e desenvolvimento. Por exemplo, quando cultivada fora da época indicada, por ser sensível à duração do fotoperíodo, a Crotalariaspectabilis tem o seu crescimento vegetativo reduzido, iniciando o período de frutificação quando as plantas ainda estão com altura reduzida, diminuindo a produção de matéria seca e aumentando as condições favoráveis à incidência de mofo-branco.

Essa matéria completa você encontra na edição de janeiro 2018 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

 

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