José Braz Matiello
Engenheiro agrônomo da Fundação Procafé
Franco Cosme
Robson R. Campos
Engenheiros agrônomos da Defesa Agrícola
Bruno S. Marques
Engenheiro agrônomo
O mal do tronco, uma doença que ataca o tronco de cafeeiros conillon, vem aumentando seu ataque e já causa prejuízos, matando as plantas em muitas lavouras do Norte do Espírito Santo e área contigua do Sul da Bahia.
Identificada a partir de 2012 em Pirapora (MG) e a partir de 2014 na região norte do ES, a doença ganha importância nas regiões produtores de café conillon e já causa preocupação aos cafeicultores e técnicos que os assistem.
Entenda melhor
Ainda existem dúvidas, mas, apesar do pouco tempo, já se aprendeu bastante sobre o comportamento da doença. Conhecida como “traqueomicose“, este nome se refere à doença do tronco e vem do grego traqueo- de corte ou traqueia, pois existe a interrupção da passagem da seiva. Micose significa fungo, que atinge os vasos da planta.
No Brasil não vinha se notando problemas sérios com este tipo de doença em cafeeiros. Até seis anos atrás era observada apenas uma fusariose branda em cafeeiros arábica, que ocorre em plantas bem velhas e progride lentamente, sem apresentar problemas de natureza econômica significativa.
Ataque
Os problemas do ataque em troncos de cafeeiros conillon, verificados nos últimos anos, levam à morte parcial ou de um todo de plantas, sintomas semelhantes à queles causados pela temÃvel doença traqueomicose, murcha vascular ou CWD (Coffeewiltdisease), que provoca severos prejuízos na cafeicultura de robusta em diversos países africanos ““ no Congo, em Uganda e Ruanda, sendo causada pelo fungo Fusariumxylarioides ou Gibberellaxilarioides, transmitida de uma planta a outra pelos utensÃlios de poda, como facões.
Em visitas a campo, feitas recentemente nas áreas de conillon em Aracruz, Linhares e Jaguaré, Norte do ES, foi possível verificar a crescente gravidade do ataque, justamente pelo uso em maior escala de podas em cafeeiros conillon.
Observou-se que plantas novas, em que ainda não foram feitas podas, a doença não aparece. Já nos cafeeiros podados, seja naqueles onde se recepa hastes para a sua troca por novas, seja naqueles onde se faz o corte da ramagem lateral, para a colheita de ramos, as ferramentas(serra ou foicinha) usadas, ao ferir o tronco facilitam a contaminação, levando o fungo de uma planta doente pra outra sadia.
Neste sentido, pode-se ver, bem no início, o desenvolvimento de lesões junto aos ferimentos. Nas mesmas lavouras, logo abaixo dos cafeeiros doentes, mudas que nascem junto a eles ficam sadias, evidenciando que o fungo não consegue atacar via raízes.
As plantas atacadas mostram, inicialmente, uma ou mais hastes com folhas amareladas, depois segue-se a murcha e seca da copa. Ao se cortar o tronco pode-se ver o tecido dos vasos e lenho escuros.
Suscetibilidade
Outra observação interessante foi a de que cafeeiros de certos clones são muito suscetÃveis, enquanto de outros, ao lado, se mostraram praticamente sem a doença. Este é o caso dos clones LB1 e P1, muito suscetÃveis, e do A1, quase sem ataque.
Quanto ao agente causal, por duas vezes foi identificada a presença de Fusarium nos tecidos doentes do tronco, porém, ainda não se tem uma identificação perfeita. Alguns técnicos da região levantaram a hipótese de causa abiótica, no entanto, as características de ocorrência da doença em apenas parte da planta, de atacar cafeeiros só depois de iniciadas as podas e, ainda, de ocorrer em plantas de certos clones e de outros não, embora vizinhas, dão certeza da causa biótica da doença.
O que fazer?
Com base nas observações, podem ser indicadas medidas de prevenção/controle:
ÂŒDesinfetar as ferramentas usadas para as podas: usar água sanitária diluÃda em água, podendo-se complementar por desinfecção de partes podadas;
 Eliminar plantas no início da doença, quando esta mostrar os sintomas iniciais, para evitar a contaminação de outras, pelas podas;
ÂŽReplantar pés que morreram com a doença;
ÂObservar o comportamento de cada clone e usar apenas materiais que tenham resistência;
ÂAdotar sistemas de manejo com menos podas(plantios mais juntos, com condução de poucas hastes (uma ou duas/pl)).