Carla Verônica Corrêa
Doutoranda em Agronomia/Fisiologia Vegetal e Metabolismo Mineral – UNESP
Luís Paulo Benetti Mantoan
Doutorando em Ciências Biológicas/Fisiologia Vegetal – UNESP
Diante a necessidade de aumentar a produtividade e, dessa forma, fazer uma intensa exploração agrícola, tem-se observado um maior desgaste dos elementos minerais e da matéria orgânica do solo, pois, na maioria das culturas, apenas uma pequena parte da matéria orgânica produzida permanece no solo durante a colheita.
Os microrganismos presentes no solo dependem dessa matéria orgânica como fonte de alimento. Em contrapartida, os microrganismos atuam de forma a promover o retorno dos elementos minerais que estavam presentes na palhada ou nos restos culturais para o solo e, dessa forma, novamente serem absorvidos pela cultura instalada.
Essa ciclagem de nutrientes possibilita o aumento da fertilidade do solo, beneficiando o produtor no sentido da redução dos custos, com a aplicação de adubação quÃmica tanto no plantio como na de cobertura.
Outro aspecto que causa problemas aos produtores em relação ao manejo convencional do solo é a compactação do mesmo, o que leva à redução do sistema radicular, da absorção de nutrientes e de água, o que resulta também em menor resistência da cultura em condições de seca.
Além disso, microrganismos como bactérias e fungos micorrÃzicos necessitam do oxigênio para a respiração. Em condições de solo compactado e, dessa forma, sem oxigênio, há prejuízos de forma expressiva na diversidade microbiana.
Exigências dos vegetais
Em geral, as culturas são dependentes de uma boa condição biológica do solo, como é o caso da soja. Esta cultura apresenta raízes que fazem associação com bactérias pertencentes ao gênero Bradyrhizobium, as quais realizam a fixação biológica do nitrogênio do ar.
Entretanto, com o frequente uso do solo para a atividade agrícola e o manejo inadequado deste, há prejuízos às populações destes microrganismos, dificultando a possibilidade do produtor alcançar à máxima capacidade produtiva.
O plantio de monoculturas também contribui para a redução da diversidade de microrganismos benéficos. Ao se implantar uma cultura, há maior preocupação com a adubação e calagem da área, porém, não se leva em consideração a necessidade de restabelecer a população microbiana do solo, a qual pode ser alcançada por meio da adubação biológica.
Benefícios
Por meio desta adubação é possível aumentar a produtividade de todas as culturas, uma vez que todas as espécies vegetais apresentam algum tipo de relação com microrganismos do solo.
Além disso, o aumento da diversidade e da quantidade de microrganismos no perfil permite a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Como exemplo, podemos relatar a decomposição da matéria orgânica, extremamente necessária inclusive para o aumento da fertilidade do solo.
Outra vantagem é que essas melhorias nas propriedades do solo, quando se mantém esse tipo de manejo, permanecem a longo prazo. Assim, quando se aplica apenas a adubação quÃmica, observa-se que a fertilização do solo é temporária, enquanto que a biológica é contÃnua.
No entanto, o interessante é conciliar os dois tipos de adubação, o que acarretará na conservação das propriedades do solo, redução de perdas de nutrientes por lixiviação, como ocorre com o potássio, e a adsorção, como é o caso do fósforo, nutriente extremamente crÃtico nos solos brasileiros, principalmente em cultivos no Cerrado.
Opções
Uma das opções bastante destacada é o emprego de produtos biológicos, como alguns que apresentam a capacidade de estimular o início da fermentação e o crescimento dos microrganismos, garantindo a continuidade da multiplicação dos microrganismos e da produção dos metabólitos primários e secundários. Estes, por sua vez, podem atuar na redução e inibição de organismos patogênicos, na melhoria no desenvolvimento radicular e aumento de microrganismos benéficos.
Além disso, restabelece a vida dos solos, devolvendo a biodiversidade microbiana adaptada ao local de uso, estimula o microbioma nativo do solo, condiciona as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. É constituÃdo por microrganismos, além de nutrientes e metabólitos primários e secundários.
Apresenta grande diversidade de microrganismos, como bactérias, fungos e leveduras. No Brasil, estudos conduzidos por instituições como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), a Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho“ (UNESP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicam que o manejo do solo com o adubo biológico auxilia no condicionamento das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo graças à constituição do produto por microrganismos, nutrientes e fitormônios.
É importante frisar que experimentos também apontam a ação na indução da sanidade vegetal. Com a instalação das denominadas biofábricas feitas na mesma área de produção agrícola, é possível a produção constante do adubo biológico, trabalhando com a biodiversidade microbiana do solo para promover benefícios multifuncionais, como a reestruturação do solo.