VinÃcius Marques Marangoni
Pedro Miguel Bernardes
Graduandos em Engenharia Agronômica (ESALQ/USP)
O enxofre (S) é um não metal de número atômico 16 e massa atômica 32 u. Segundo a legislação brasileira, é considerado um macronutriente secundário, juntamente com cálcio (Ca) e magnésio (Mg).
Isso não se deve à menor importância do elemento na nutrição das plantas, mas sim por não fazer parte de fórmulas mais concentradas de fertilizantes NPK, como o MAP, DAP, superfosfato triplo, ureia e nitrato de amônio. Por conta disso, com a intensificação agrícola e contÃnuo uso desses fertilizantes concentrados, somado ao uso de corretivos, começaram a manifestar sintomas de deficiência de enxofre nas lavouras brasileiras (Alvarez et al., 2007), tornando-se um fator limitante à produtividade.
Enxofre na soja
O enxofre é absorvido pelas plantas na forma sulfato (SO42-), forma predominante do S na solução do solo. É, no entanto, assimilado na forma dos grupos sulfidrilos (-SH) e dissulfetos (-S-S).
Função
A principal função do S nas plantas cultivadas é estrutural, compondo quatro dos 20 aminoácidos conhecidos: cistina, metionina, cisteÃna e taurina, sendo os dois primeiros essenciais para o metabolismo humano e produzido exclusivamente pelas plantas superiores.
Outra importante função do enxofre nas plantas é a participação no metabolismo do nitrogênio, atuando na fixação biológica do N2 (FBN) do ar, importante especialmente para espécies da família Fabaceae como a soja, e também na incorporação do N mineral em aminoácidos (Vitti, 1988).
Na FBN, o S é componente da enzima ferrodoxina, responsável pela hidrólise da água e que fornecerá H2 para a nitrogenase converter N2 atmosférico em NH3.
Além da fixação biológica do nitrogênio, o S faz parte da enzima redutase do nitrito (NO2-). Essa enzima é vital para o metabolismo do N na planta e para a produtividade agrícola, já que reduz o nitrito em NH2, forma de nitrogênio incorporado em aminoácidos, proteínas e enzimas.
O S ainda faz parte da composição da tiamina (vitamina B1) e biotina, coenzimas essenciais para a nutrição humana, tal como a coenzima A (CoA), composto essencial para o estágio inicial do ciclo de Krebs na respiração celular (Vitti et al., 1986).
Exigências nutricionais da soja
A soja exige bom fornecimento de enxofre durante todo o ciclo para uma boa produtividade e qualidade de seus grãos. Dados da Embrapa (1993) mostram que a soja extrai cerca de 15 kg t-1 de grãos produzidos e exporta cerca de 5 kg t-1 de grãos pela colheita.
Na folha, o teor adequado de S na soja é entre 2,1 ““ 4 g kg-1 (Raij et al., 1997). Outra forma de analisar o estado nutricional das plantas a respeito do enxofre e também nitrogênio é pela relação N/S na planta, ficando em torno de 12 a 15/1 (Vitti &Trevisan, 2000).
Há carência de referências, no entanto, para balizar as recomendações de doses de enxofre para a cultura, normalmente usa-se 15 kg de S ha-1 para cada tonelada de grãos produzida (Broch et al., 2011) ou 30 kg de S ha-1 para um ciclo produtivo de soja no Cerrado (Rein &Sousa, 2004).
Sintoma de deficiência
Por ser um nutriente imóvel quanto à redistribuição na planta, os sintomas de deficiência de enxofre são evidenciados nas folhas novas (Malavolta, 1980). O sintoma é caracterizado por clorose (amarelecimento) generalizada de folhas novas e em estágios mais avançados há também crescimento reduzido das plantas, devido à menor produção de proteínas e acúmulo de N solúvel ao invés de N proteico, por falta de enzimas sulfatadas (Karmoker et al., 1991).
Devido à influência na fixação biológica do nitrogênio, a deficiência pode se expressar também em menor nodulação e desenvolvimento radicular em soja.
Enxofre no solo
O enxofre possui característica semelhante ao nitrogênio no que diz respeito a seus diferentes estados de oxidação, predominar nos solos sob forma orgânica (95%) e também sofrer diversas transformações por intervenção de microrganismos.
A forma mais estável do enxofre na natureza é o sulfato (SO42-). Essa forma é a principal encontrada na solução do solo, sendo facilmente lixiviável devido aos solos cultivados normalmente apresentarem balanço de cargas negativas (CTC) e repelirem ânions ao invés de adsorvê-los. Por conta disso, é comum encontrar os teores de enxofre superiores em sub-superfície (20-40 cm), já que lá as cargas positivas são aumentadas (CTA).