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Pedro Henrique de Cerqueira Luz
Felipe Barros Macedo
Engenheiros agrônomos, doutores e professores do setor das Agrárias da FZEA/USP
Nesses dois últimos anos tivemos problemas climatológicos de déficit hídrico acentuado nas culturas de verão da região centro-oeste/sudeste, podendo-se notar a ausência de excedente hídrico ou mesmo presença de deficiência em 2015, sendo considerado como um ano totalmente atípico, pois normalmente temos bons excedentes hídricos em nesse mês, como por exemplo, em janeiro/2013.
O manejo dos atributos do solo, planta e clima influencia direta ou indiretamente o crescimento dos vegetais. Estes fatores podem ou não serem controlados, com maior ou menor dificuldade, como o caso da precipitação, que pode ser contornada com a técnica da irrigação.
No entanto, nem todas as propriedades dispõem da possibilidade de irrigação, aliás, no Brasil (IBGE 2006) o potencial de agricultura irrigada corresponde a cerca de 29,5 milhões de hectares. Os dados da ANA ““ Agência Nacional de Águas informam que em 2013 havia 5,5 milhões de hectares irrigados no Brasil, ou seja, apenas 18,6% do potencial de área irrigável.
A produtividade das culturas é dependente de uma série de variáveis relacionadas com fatores climáticos, fatores inerentes à própria planta, atributos do solo, pragas e doenças e plantas daninhas, evidenciando que a precipitação é o fator mais limitante à produção.
Por outro lado, sabe-se que as áreas irrigadas no Brasil são muito pequenas, e desta forma os produtores deveriam estar atentos a fatores de produção que possam minimizar os efeitos do déficit hídrico.
Nesse sentido vamos sugerir práticas de manejo que o produtor possa utilizar, no sentido de reduzir o impacto do déficit hídrico sobre o desenvolvimento das culturas, com vistas a evitar, ou mesmo minimizar a queda de produção decorrente da falta de chuva. Para tanto, destacamos alguns aspectos importantes, que podem ser manejados dentro dos sistemas de produção, tais como: manejo físico e químico do solo, práticas culturais relacionadas à adubação verde, espaçamento, utilização de bioestimulantes como ácido húmicos, matéria orgânica e hormônios.
Manejo químico do solo
O manejo químico do solo é fundamental para a melhoria da fertilidade, que será a principal fonte de nutrientes para as plantas. No entanto, as práticas de correção da acidez do solo e o condicionamento químico de subsuperfície se fazem necessários para a obtenção de condições favoráveis ao crescimento radicular, que resultará em maior volume de exploração do perfil do solo, o que proporcionará maior capacidade de utilização da água e dos nutrientes, e consequentemente implicará em melhores produtividades das culturas.
Para esta correção, as práticas utilizadas são a calagem e gessagem, sendo que o insumo mais utilizado para a calagem é o calcário e para o condicionamento de subsuperfície o gesso agrícola.
Calagem
A calagem é a prática utilizada para correção da acidez com maior ênfase na camada superficial do solo (0 a 20 cm), podendo ter reflexos nas camadas inferiores (20-40cm), com os seguintes objetivos: neutralizar o alumÃnio tóxico do solo, fornecer cálcio e magnésio como fonte de nutrientes, promover o aumento da disponibilidade do fósforo e de outros nutrientes no solo, assim como da capacidade de troca de cátions efetiva e da atividade microbiana.
Outro importante benefÃcio é possibilitar maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas, pois o cálcio é um nutriente fundamental para o crescimento do sistema radicular, associado ao condicionamento do pH, que tem relação direta com o desenvolvimento das plantas.
Sendo assim, a prática da calagem implicará num melhor sistema radicular, que trará como benefícios a maior absorção e racionalização da água, bem como dos nutrientes.
Gessagem
Em solos tropicais, principalmente sob vegetação de Cerrado, frequentemente ocorre toxidez de alumÃnio associada ou não à deficiência de cálcio, não só na camada arável, mas também em subsuperfície, na qual a correção com calcário não é tão eficiente.
O uso de gesso agrícola possibilita o aumento do teor de cálcio e a diminuição da saturação por alumÃnio, o que favorece o maior crescimento radicular, resultando em exploração de maior volume de solo, deixando a planta mais resistente a situações de déficit hídrico, além de implicar em melhor capacidade de absorção dos nutrientes provenientes do solo e dos fertilizantes.
O gesso agrícola também funciona como uma boa fonte de enxofre para as plantas.A resposta ao gesso agrícola, para melhorar o ambiente radicular em profundidade tem sido observada para a maioria das culturas anuais como soja, milho e trigo. Essas repostas são atribuÃdas à melhor distribuição das raízes das culturas em profundidade, conforme mencionado anteriormente.
Nas culturas perenes, tem-se observado aumento de produtividade para citros e, em especial, para o café. A cana-de-açúcar também tem demonstrado excelentes resultados com a aplicação do gesso agrícola. Esses ganhos de produção nas culturas perenes são atribuÃdos ao uso eficiente da água e nutrientes no perfil do solo.