Roberto Santinato
Engenheiro agrônomo do MAPA/Procafé
Felipe Santinato
Mestre em Agronomia
Reginaldo Oliveira Silva
Técnico agrícola
As pragas e doenças que atacam o cafeeiro são responsáveis pela redução do desenvolvimento vegetativo e, consequentemente, da produtividade. Elas afetam todas as partes do cafeeiro, da raiz aos frutos, de forma específica a cada praga ou doença.
Neste ano de 2014/15, com condições climáticas extremamente secas, precipitações de até 60% inferiores à da média histórica, e com a elevação de 2,0 a 3,5ºC (média dia e noite), sem dúvida a cercosporiose foi a doença que ocorreu mais acentuadamente, promovendo os maiores prejuízos, notadamente na região do Cerrado.
O prejuízo que esta doença causa tanto às folhas quanto aos frutos, aliada à praga do bicho mineiro, esta com infestação elevada praticamente o ano todo, foram os grandes problemas fitossanitários enfrentados pelo cafeicultor.
Para as pragas, além do bicho mineiro, a broca do café é um grande problema em função da ausência de produtos específicos na safra passada (2013/14) ocorrendo em alta infestação.
Devido ao atraso das chuvas e, consequentemente, ao retardamento do processo de granação dos frutos, tal praga vem ocorrendo tardiamente na maioria das regiões cafeeiras, e por isso o produtor deve ficar em alerta.
Sintomas de alerta
Nas regiões de maiores altitudes, independentemente da temperatura, mesmo em condições climáticas desfavoráveis, o complexo phoma/ascochyta causou elevados prejuízos na pós-florada e na fase de chumbinho, e em alguns casos aparecendo também tardiamente.
A mancha aureolada ficou restrita a focos ocasionais, enquanto o ácaro plano (vetor da Leprose do cafeeiro) apareceu com evidência em todas as regiões. O ácaro vermelho, por sua vez, teve sua ocorrência mais dependente dos desequilíbrios decorrentes do uso dos nicotinoides.
A ferrugem do cafeeiro, principal doença no Brasil, não tem aparecido com tanta frequência em algumas regiões. Mas não devemos nos enganar – com a entrada das chuvas de fevereiro e, provavelmente, seu prolongamento em março, a velha ferrugem deve fazer seus tradicionais estragos nos meses de junho e julho, ocorrendo de forma bem tardia.
Controle das pragas
– Bicho-mineiro: para o bicho-mineiro, além das condições climáticas bem favoráveis à sua proliferação (seca e temperaturas elevadas), houve o agravante decorrente do uso extremo de inseticidas, não específicos, no ano anterior, visando a broca do café. Isso provocou maiores obstáculos para seu controle, pois ocorreram elevadas interferências em seus inimigos naturais.
Os prejuízos desta praga são elevados, com alta desfolha atual, prejudicando a safra em andamento e, certamente, a próxima. Estes prejuízos podem ser de 30 a 80% da produtividade no ano seguinte.
Portanto, é preciso realizar seu controle, e as melhores opções ainda são a alternância de inseticidas fisiológicos como teflubenzuron, novalurom e similares, com outros inseticidas como o clorantraniliprole, todos em doses de bula.
Nunca se deve proceder a repetição do mesmo tratamento em duas safras consecutivas. Em casos de elevada incidência, antes da aplicação do clorantraniliprole é aconselhável o uso de cartap associado ao metomil ou similar, para reduzir ao máximo a população de adultos e ovos, otimizando a eficácia do clorantraniliprole.
Nas lavouras em que o produtor usará ou já usou o produto ciantraniliprole, o controle da praga foi altamente eficiente. No entanto, tal prática só é válida no estado de Minas Gerais, devido à restrição imposta pelos órgãos competentes.
O controle via solo com produtos contendo o tiametoxam e imidacloprid é aconselhável, exceto nas lavouras de sequeiro, onde a ocorrência de chuvas foi baixa. Tais produtos necessitam de elevada umidade no solo para serem absorvidos pelas plantas. Em lavouras irrigadas o controle é bastante eficiente.
Controle cultural
Com relação ao controle cultural do bicho mineiro, recomenda-se “soprar“ as folhas que contenham casulos, presentes sob a saia dos cafeeiros, para o centro das ruas, procedendo a trincha posteriormente.
Outra prática cultural de fácil aplicação é a respeito do controle do mato. Deve-se aplicar a dose cheia do herbicida somente nas duas faixas do cafeeiro, uma em cada linha do café (60 a 80 cm de distância do tronco) e aplicar ¼ ou 1/3 da dose no centro da rua, não eliminando o mato, mantendo-o com a finalidade, dentre outras, de preservar inimigos naturais.
Tal prática é denominada de manter o “bigode“ no centro da rua do café e também pode ser realizada roçando o centro e aplicando herbicida nas faixas. No entanto, devemos lembrar que as práticas culturais auxiliam no controle, reduzindo a pressão, mas não eliminam o problema.
Biologicamente, não se tem controle satisfatório de tal praga utilizando produtos da linha biológica. A prática do bigode auxilia a manutenção dos inimigos naturais, porém, é um controle apenas adicional.