Arthur Henrique Cruvinel Carneiro
Técnico em Agricultura e Zootecnia, graduando em Agronomia na Universidade Federal de Lavras (UFLA), membro dos grupos PET Agronomia, Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia (GHPD) e Núcleo de Estudos em Cafeicultura (NECAF)
Ricardo Nascimento Lutfala Paulino
Graduando em Agronomia na UFLA, coordenador tesoureiro do GHPD e suplente coordenador tesoureiro do NECAF
Itamar Ferreira de Souza
PhD em Plantas Daninhas e Herbicidas, professor titular da UFLA e professor tutor do GHPD
A “mistura de tanque“ de herbicidas é uma prática ocorrente a campo, tanto nas aplicações aéreas como terrestres, apesar desta prática não ser regulamentada no Brasil. A utilização simultânea ou sequencial de dois ou mais herbicidas sobre uma mesma cultura vem sendo cada vez mais empregada na agricultura e representa um avanço nas estratégias de controle sobre as plantas daninhas.
Atualmente, esse procedimento encontra-se em análise pela legislação brasileira, visto que por intermédio da Instrução Normativa SDA, nº 46, de 24 de julho de 2002, foi determinado que as empresas titulares de registros de agrotóxicos retirassem as indicações de misturas em tanque dos rótulos e bulas de seus agrotóxicos, com o intuito de avaliá-la sob aspectos de agricultura, de meio ambiente e de saúde pública.
As misturas que apresentam sinergismo, ou seja, quando um produto aumenta a eficiência do outro por meio da mistura, despertam maior interesse, pois permitem o uso de doses menores e controlam plantas daninhas resistentes.
Esse sinergismo, muitas vezes, ocorre quando se misturam dois herbicidas que apresentam diferentes mecanismos de ação, nos quais pode haver uma ação de complementaridade entre eles, com um facilitando a ação física e/ou bioquÃmica do outro.
Consequências da mistura de herbicidas
Mesmo com a proibição, a mistura de agrotóxicos em tanques de pulverização tem se mostrado vantajosa, comparada a aplicações efetuadas com um único produto químico, em razão, principalmente, da redução do número de pulverizações na lavoura, devido ao aumento do espectro de ação e, consequentemente, Ã redução dos custos de produção.
Pesquisas realizadas confirmaram a hipótese de que a mistura de herbicidas do grupo dos inibidores do Fotossistema II com inibidores da síntese de carotenoides pode apresentar sinergismo. Os primeiros geram estresse oxidativo, e os segundos inibem a capacidade da planta de combater esse estresse, tornando-a mais vulnerável e mais facilmente suscetÃvel ao controle.
Desta forma, verifica-se a existência de sinergismo entre duas combinações de herbicidas pertencentes a dois mecanismos de ação citados anteriormente. A escolha das doses apropriadas, o número de plantas daninhas presentes na área e sua variabilidade, além das espécies envolvidas na análise, podem influenciar na ocorrência do sinergismo.
Incompatibilidade de herbicidas
São comuns os problemas nas misturas de produtos, podendo gerar caldas sem miscibilidade adequada, sedimentação e formação de grumos. Ainda são frequentes as reclamações de técnicos e produtores de que os tratamentos não apresentam o resultado esperado sobre o organismo-alvo na lavoura e, na maioria das vezes, esse problema está relacionado a um fator na mistura de produtos na calda de pulverização: a incompatibilidade de agrotóxicos.
Essas misturas podem resultar na ocorrência de interações aditivas (quando a eficiência do produto é similar ou igual à aplicação de ambos de modo individual), sinérgicas (um produto aumenta a eficiência do outro) e antagônicas (um produto interfere negativamente na eficiência do outro), podendo prejudicar a eficiência de controle.
A incompatibilidade física entre agrotóxicos de diferentes classes aplicados em misturas pode ser uma das causas da redução da eficiência do tratamento fitossanitário ou do controle de plantas daninhas, que é usualmente causada pelos ingredientes inertes contidos nos agrotóxicos (formulação dos produtos, solventes e suas interações), resultando em formação de precipitados, separação de fase, dentre outros, os quais inviabilizam a aplicação de modo simultâneo.
Tabela 1– Estabilidade das misturas entre as diferentes classes de defensivos agrícolas, em Nova Xavantina (MT), 2010
Grau |
Condição |
Recomendação |
1 |
Separação Imediata |
Não aplicar |
2 |
Separação depois de 1 minuto |
Não aplicar |
3 |
Separação depois de 5 minutos |
Agitação contÃnua |
4 |
Separação depois de 10 minutos |
Agitação contÃnua |
5 |
Estabilidade perfeita |
Sem restrições |
 Fonte: Centro Brasileiro de Bioaeronáutica (CBB).
Cuidados na mistura de herbicidas
Mesmo não sendo regulamentada no Brasil, a mistura de herbicidas é uma técnica muito utilizada por produtores por apresentar, teoricamente, maior eficiência no controle de plantas daninhas quando comparado ao uso isolado do mesmo.
Dessa forma, é bom ressaltar que é necessário precaver de cuidados quando for realizar a misturas de herbicidas. Estes cuidados são: pH da calda para cada herbicida, temperatura e qualidade da água utilizada, agitação da solução e concentração dos herbicidas.
Um cuidado importante é a ordem de adição de cada herbicida à mistura, pois para cada combinação há uma ordem de adição dos produtos, sendo que um produto pode inibir o outro, diminuindo a eficiência da mistura, contrariando, então, o pensamento de que a mistura sempre é mais eficiente do que o uso isolado dos herbicidas.
Nota-se, então, que é necessário tomar cuidados quando a intenção for misturar herbicidas para se ter maior eficiência no controle de plantas daninhas.