Autores
Débora Aparecida do Nascimento
Gestora pública, agricultora e presidente da Cooperativa Copavale
copavale.coop@gmail.com
Ivan Silva Evangelista
Engenheiro agrônomo, especialista em Agricultura Familiar, Educação do Campo e em Gestão Pública ievangelista@pr.sebrae.com.br
Dariane Mariano do Nascimento
Graduada em Administração de Empresas – Pontifícia Universidade Católica do Paraná
darianemariano@gmail.com
Antes de entrarmos nos aspectos de manejo propriamente ditos, se faz necessário realizar uma pequena abordagem sobre as características do território de que estamos tratando. O Vale do Ribeira Paranaense é compreendido pelos municípios de Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Itaperuçú, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná, que compreendem 6.106,14 km2, ou seja, possui uma significativa extensão territorial.
Os municípios desse território que se destacam na produção de citros, mais especificamente das tangerinas, são Cerro Azul, Doutor Ulysses, Rio Branco do Sul e Itaperuçú, com respectivamente 46, 19, 7 e 1% da produção estadual, ou seja, estes municípios juntos são responsáveis por 75% da produção de tangerinas do Estado do Paraná.
Se destaca ainda no cenário nacional o município de Cerro Azul, que individualmente é o maior produtor de tangerinas do Brasil, com 10% da produção. Segundo os dados das secretarias municipais de agricultura, o Vale do Ribeira possui 6.498 CADPRO´s – Cadastros de Produtor Rural, sendo 90% agricultores familiares.
Condições
As características de vegetação, relevo, clima e solo do Vale do Ribeira tornam este ambiente diferenciado em relação aos existentes em outras regiões, influenciando a forma do uso dos solos que na maioria não permitem mecanização, dificultando os tratos culturais nos pomares.
Por outro lado, essa condição possibilita a implementação de práticas conservacionistas e até a implementação de sistemas como a agricultura ecológica e/ou orgânica, que podem ser grandes impulsionadores da economia local.
No que diz respeito aos aspectos de manejo dos citros, vamos apresentar de forma geral e sucinta alguns manejos mínimos, porém essenciais, adequados à realidade da região.
Correção de solo e adubação
É fundamental conhecer a fertilidade do solo antes do plantio. Para isso, é necessário a realização da análise de solo, que permitirá ao profissional indicar a correção e a adubação adequada.
A vantagem no Vale do Ribeira é que as fontes de calcário, material utilizado na correção, estão muito próximas, inclusive nos próprios municípios do território, facilitando assim o frete, que é o item que mais eleva o custo do produto.
Este insumo é de extrema importância para o desenvolvimento das plantas, fornecendo cálcio e magnésio, corrigindo a acidez e reduzindo a saturação do solo por alumínio, melhorando a disponibilidade de nutrientes como fósforo e estimulando a atividade microbiológica. Além dos benefícios mencionados, o calcário melhora a eficiência da adubação, visto que a absorção de nutrientes depende do adequado pH do solo.
As plantas dependem de uma série de nutrientes para se desenvolverem adequadamente e, na maioria das vezes, os solos não conseguem suprir as demandas das mesmas. Nas condições do Vale do Ribeira, onde há possibilidade de trabalhar a agricultura ecológica e/ou orgânica, podem ser utilizados para ampliar a fertilidade os estercos de aves ou bovinos, as compostagens e os biofertilizantes alternativamente aos adubos químicos.
É importante frisar que o primeiro passo é a correção do solo para que as adubações sejam aproveitadas com eficiência. Ressaltamos a importância da análise de solo e interpretação por um profissional para a adequada recomendação da calagem e adubação.
Formação do pomar
A partir do plantio, é fundamental que as plantas de citros tenham condições de se desenvolverem para que tenham forma e estrutura adequadas para gerar boas produções e permitir os tratos culturais. É importante que o plantio se faça no período chuvoso visando o pegamento e adequado desenvolvimento das mudas.
Deve-se atentar para o ataque de formigas cortadeiras, cochonilhas e larva-minadora, que têm sido as principais pragas que atacam as plantas nesta fase. As plantas espontâneas, se não manejadas adequadamente, podem causar prejuízos ao pomar no início de seu desenvolvimento.
A utilização de enxadas rotativas, grades ou arados, não é recomendada para o controle do mato, pois causam sérios danos às raízes, podendo abrir porta para a entrada de doenças muito prejudiciais ao pomar. A roçada realizada por roçadeiras costais é indicada e tem sido uma prática que tem dado um resultado satisfatório nos pomares da região, formando cobertura morta, que é essencial para evitar a erosão, elevando ainda a matéria orgânica e a umidade do solo.
Outro fator importante é a formação das pernadas das plantas, pois são elas que vão possibilitar a formação da estrutura da copa. Quando a muda é de haste única, essa poda é realizada para forçar as brotações, que devem ser selecionadas para formar três a quatro pernadas.
Nas plantas jovens, normalmente ocorre o aparecimento de ramos “ladrões”, brotações no porta-enxerto e no tronco, que devem ser eliminadas para não prejudicar o seu desenvolvimento.
Manejo do solo e plantas de cobertura
O relevo acentuado e a ausência de práticas conservacionistas na maioria das propriedades da região gera uma certa preocupação em relação à preservação de um recurso extremamente preciso, que é o solo, ou seja, a base de todo o sistema produtivo quando nos referimos a solo, água e planta.
Normalmente o plantio já está estabelecido em desnível, no sentido da declividade, e há redução da cobertura solo. A erosão hídrica é o grande fator que desencadeia diversos problemas relacionados à fertilidade, agravamento dos problemas fitossanitários e a desestruturação dos solos, culminando em redução da produtividade.
São várias as práticas conservacionistas que podem ser adotadas conforme a características dos terrenos, como por exemplo, a adoção de patamares em nível, construção de patamares em declive, terraços, plantio em nível, etc. Uma prática que devemos destacar e que tem se mostrado eficiente e adaptada às condições do Vale do Ribeira é a utilização de plantas de cobertura.
Consiste, basicamente, na utilização de plantas nas entrelinhas dos pomares que mantêm o solo coberto e proporcionam uma série de benefícios ao sistema. As vantagens são a proteção do solo contra erosão devido à interceptação do impacto das gotas de chuva e aumento da infiltração da água no solo, a melhoria da fertilidade pela atuação na parte química, física e biológica do solo, a ciclagem de nutrientes, fixação de nitrogênio, especialmente pelas leguminosas, redução de nematoides e aumento da atividade biológica do solo por meio da sua estruturação.
Também contribui com o manejo fitossanitário da pinta-preta. A principal desvantagem é a concorrência com as plantas cítricas que deve ser minimizada pelo manejo realizado conforme a espécie. Atualmente, o Iapar e a Embrapa, com o apoio de parceiros, desenvolvem experimento na região do Vale do Ribeira, com previsão de término no ano de 2021 e que pretende avaliar e orientar o manejo mais adequado para a região.
Espécies
De forma geral, existem diversas espécies que podem ser utilizadas, como plantas de cobertura, por exemplo, calopogônio, Arachis pintoi, Brachiaria ruziziensis, nabo forrageiro, feijão de porco, aveia preta, mucunas, ervilhacas, crotalárias, feijão guandu, enfim, espécies que podem ser categorizadas como perenes ou anuais (inverno/verão) e integrantes das famílias das gramíneas ou leguminosas, e também vegetação espontânea ou espécies introduzidas.
Espera-se que as plantas de cobertura possam aprimorar a tecnologia de manejo da cobertura vegetal do solo no Vale do Ribeira, especialmente na diminuição da erosão, controle de plantas infestantes, aumentando a fertilidade do solo e, consequentemente, a produtividade dos pomares, ainda contribuindo para uma agricultura mais sustentável por meio da preservação dos recursos naturais.
Tratamentos de inverno
As plantas de citros no Vale do Ribeira normalmente apresentam densa formação de ramos internamente na copa devido à não realização das práticas de poda. Também se encontram no interior da copa muitos líquens (associação de fungos e algas) e um revestimento conhecido como feltro ou camurça, além de ácaros que acabam prejudicando e, muitas vezes, causando o apodrecimento destes ramos. A umidade relativa elevada na região, com média anual de 80%, favorece o aparecimento destes problemas.
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