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Claudia Adriana Görgen
Engenheira agrônoma, doutoranda em Geociências na UNB
Inicialmente é preciso entender, de forma simples, o que são ácidos húmicos e fúlvicos, quais suas origens, onde e como atuam. Ácidos húmicos e fúlvicos são originados da decomposição quÃmica e biológica de todo e qualquer material vivo. Tudo o que é vivo respira e, se respira, apresenta substâncias carbônicas.
No processo de decomposição dos seres vivos inicialmente ocorre a mineralização primária, onde são liberados compostos orgânicos como proteínas, celulose, açúcar e elementos como nitrogênio, enxofre e fósforo, entre outros.
Posteriormente, no processo de biodegradação são produzidos novos compostos pela ação da biomassa microbiana, com a liberação de gás carbônico. Finalmente, no processo de remineralização secundária, o material orgânico mais resistente fica disponível como substrato para microrganismos na forma de substâncias simples menos estáveis (proteínas e aminoácidos, etc.), ou substâncias complexas mais estáveis (humina, ácidos húmicos e fúlvicos).
Então, ácidos húmicos são compostos escuros, quimicamente complexos, o que evidencia a alta capacidade de troca catiônica. Já os ácidos fúlvicos apresentam frações coloridas, quimicamente constituÃdas por polissacarÃdeos, aminoácidos e compostos fenólicos, e apresentam capacidade redutora no solo formando complexos de Fe, Cu, Ca e Mg.
Veja bem
A partir dos conceitos expostos, pode-se afirmar que a simples aplicação de esterco bovino ou suÃno, ou ainda cama de frango, no solo, produz, de forma eficiente, ácidos húmicos e fúlvicos necessários. Outra forma eficiente é o cultivo de plantas de cobertura no Sistema de Plantio Direto. A matéria seca produzida fornecerá substrato suficiente para as remineralizações no solo cultivado, garantindo os benefícios descritos.
Por incrÃvel que pareça, a simples aplicação de calcário sedimentar, ao invés de calcário metamórfico, possibilita o aumento de ácidos húmicos e fúlvicos e a ativação microbiológica no solo.
No sudoeste goiano, por exemplo, os calcários “pretos” originados da Formação Irati apresentam benefícios muito além do aumento do pH e fornecimento de cálcio e magnésio. São fornecedores de micronutrientes, promovem a formação de minerais 2:1 e ativam a biota do solo de forma natural e equilibrada, diminuindo o ataque e a multiplicação de nematoides maléficos.
Liberação nutricional
Cabe salientar que tanto os ácidos húmicos quanto os fúlvicos interagem perfeitamente no processo de liberação de nutrientes a partir da aplicação de pó de rochas com pH de abrasão em torno de nove.
O ataque ácido acelera a dissolução dos minerais presentes nas rochas potássicas e fosfáticas em processo semelhante ao utilizado na indústria de fertilizantes, onde são aplicados ácido sulfúrico e ácido clorÃdrico para obtenção de concentrados.
A grande vantagem é que o processo acontece no solo, com custo extremamente baixo, e a liberação de nutrientes ocorre de acordo com a necessidade da planta cultivada, sem perdas por lixiviação ou acidificação do solo. Considera-se, ainda, o efeito residual do pó de rocha e a disponibilização gradual, porém, suficiente de macro e micronutrientes.
A combinação entre substâncias húmicas e minerais 2:1 no solo aumenta a CTC, garante o fornecimento de nutrientes, aumenta a atividade biológica, inclusive de bactérias fixadoras de nitrogênio, reduz o calor, beneficiando a germinação das sementes, retém água, o que diminui o efeito negativo dos veranicos, aumenta a permeabilidade pela agregação coloidal, aumenta o enraizamento, reduz a lixiviação e, ainda, apresenta poder tamponante.