Autores
Bruno Nicchio
Doutorando em Agronomia e membro do Grupo de Pesquisa “Silício na Agricultura” – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
bruno_nicchio@hotmail.com
Marlon Anderson Marcondes Vieira
Mestrando em Agronomia e membro do Grupo de Pesquisa “Silício na Agricultura” – UFU
Atualmente, é notório o aumento na demanda por alimentos e sua crescente necessidade no fornecimento por meio do aumento de produtividade agrícola. A produção agrícola tem sido associada à intensa utilização dos insumos, que, mesmo sendo visíveis os benefícios para as plantas em seu desenvolvimento e produtividade, ainda são de alto custo e quando não há um manejo adequado geram, em longo prazo, impactos negativos na ecologia das regiões agrícolas. Além disso, o Brasil é um dos poucos países com reais possibilidades de contribuir grandemente para suprir a demanda de aumento na produção de alimentos.
A sustentabilidade dos sistemas agrícolas está intimamente ligada ao fornecimento de nutrientes às plantas, que, por sua vez, depende também da relação do sistema solo-planta-atmosfera, no que diz respeito à disponibilidade de recursos para produção desses insumos.
Em extinção
Ao mesmo tempo, estudos têm demonstrado que as matérias-primas para produção de fertilizantes minerais estão se exaurindo, resultado de um sistema insustentável. O Brasil é um dos poucos países no mundo que tem potencial produtivo ainda a ser utilizado e, por isso, novas tecnologias estão cada vez mais em desenvolvimento visando reduzir a dependência de fertilizantes, com a utilização de resíduos urbanos, industriais e agrícolas, que além de serem fontes alternativas podem favorecer a despoluição do ambiente, diminuindo o passivo ambiental.
Adubos húmicos e sua importância
A matéria orgânica humificada influencia as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. A capacidade de promover o crescimento vegetal que as substâncias húmicas (SH) apresenta está adquirindo nova importância para uma agricultura orgânica ou sustentável.
As substâncias húmicas apresentam influência em muitos processos metabólicos nas plantas, tais como: respiração, fotossíntese, síntese de ácidos nucléicos e absorção de íons, objetivando o incremento da produção em função de processos ligados ao enraizamento, desenvolvimento vegetativo, floração e frutificação (Silva et al., 2008).
Além disso, os ácidos húmicos governam a dinâmica e disponibilidade dos nutrientes no solo, favorecendo especificamente o maior enraizamento e aumento do número de sítios mitóticos, o que facilita a absorção de nutrientes com o aumento da atividade de várias enzimas e do número de pontos de colonização de bactérias (Conceição et al., 2008; Hamza &Suggars, 2001).
Seguindo esta concepção, os ácidos húmicos e fúlvicos destacam-se por serem produtos naturais que resultam da decomposição da matéria orgânica, sendo ótimos estimulantes nas alterações fisiológicas dos vegetais, podendo contribuir para o crescimento e ganho de produtividade de diversas culturas (Caron, 2015).
Devido à natureza heterogênea e complexa das SH, pouco se conhece sobre sua estrutura química e apresentam-se como misturas heterogêneas de moléculas polidispersas com elevada massa molar. Possuem alto teor de grupos funcionais contendo oxigênio na forma de carboxilas, hidroxilas fenólicas e carbonilas (Burba, 1994).
Os produtos então formados associam-se em estruturas complexas mais estáveis, de coloração escura, elevado peso molecular, separadas com base em características de solubilidade (Kononova, 1982). Os ácidos húmicos são ácidos orgânicos, solúveis em água, presentes em diferentes fontes orgânicas, tais como lodo de esgoto, composto orgânico, leonardita, turfa e produtos comerciais que estimulam a absorção de nutrientes, principalmente de íons catiônicos (Lima et al., 2011).
Adubos fosfatados e sua importância
O fósforo (P) é um elemento essencial para as plantas e atua em diversas partes do metabolismo vegetal, na divisão celular, ATP, ADP, fotossíntese, desdobramento de açúcares, crescimento de mudas, desenvolvimento de raízes, produtividade de grãos, colmos, massa seca, etc.
Porém, os solos brasileiros em sua maioria apresentam baixos teores neste nutriente em função de serem altamente intemperizados, ácidos e oxídicos. Esses fatores fazem com que o P seja fixado ou adsorvido no solo, o que reduz os teores disponíveis deste nutriente para as plantas.
Deste modo, a adubação fosfatada tem como importância a disponibilização de P para as plantas, além de aumentar as reservas deste nutriente no solo. Mas, diversos fatores estão ligados à eficiência no manejo de adubação fosfatada, como calagem, tipo de fosfato, modo de aplicação, época e quantidades a serem aplicadas. Assim, os adubos fosfatados podem incrementar a produtividade das culturas agrícolas brasileiras, proporcionando maior retorno financeiro (Nicchio, 2015).
Fontes fosfatadas
As fontes de fósforo são separadas em dois grandes grupos: aciduladas e não aciduladas. As fontes aciduladas são aquelas que passaram por um processamento químico e de acidificação da rocha para disponibilização do elemento.
Com isso, esses fosfatos são altamente solúveis e eficientes na liberação de P (granulados), como superfosfato triplo (SFT) e mono-amônio fosfato (MAP). As fontes não aciduladas são os fosfatos naturais, rochas que passaram somente pelo processamento físico (farelada) e com isso apresentam menor solubilidade em água e baixa eficiência em curto prazo, mas com efeito residual variável em função do material de origem da rocha de alta ou baixa reatividade, como fosfato de Catalão, Araxá, farinha de ossos, fosfato natural reativo bayóvar, Arad e etc.
Adubos fosfatados + adubos húmicos
Nas últimas décadas, diversos estudos em diferentes institutos de pesquisa têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar adubos fosfatados mais eficientes, visando aumentar sua eficiência agronômica e efeito residual, reduzindo os efeitos de perdas do P aplicado no solo por meio da fixação pelo solo. Técnicas como calagem, que visam elevar o pH do solo e reduzir as cargas que adsorvem o P no solo, são de grande importância.
A incorporação de material orgânico também pode reduzir a adsorção de P no solo em função deste poder adsorver ácidos orgânicos que ocupariam os sítios de adsorção de fosfato, aumentando a disponibilidade deste elemento para as plantas.
A eficiência desses ácidos em melhorar a disponibilidade de P para as plantas depende do valor de pH do solo, do tipo de ânion orgânico e da persistência destes ânions no solo (Andrade et al., 2003).
Andrade et al. (2003) relataram diversos autores que observaram redução na fixação de P no solo quando estes receberam aplicação de ácidos húmicos. Matias (2010), ao avaliar a eficiência agronômica de fertilizantes fosfatados (doses de 100 e 200 kg ha-1) e substâncias húmicas (20, 40, e 80 t ha-1) em diferentes solos, verificou que o uso de fosfato natural reativo com substâncias húmicas (turfa) foi mais eficiente quando comparado com o SFT. Além disso, o autor observou que a adição de substâncias húmicas aumentou a disponibilidade de P no solo.
Dicas importantes
Conforme já citado anteriormente, a época de aplicação do fosfato pode influenciar em sua eficiência. Para que o solo seja corrigido nos teores de P no solo, é indicado o uso de fosfatos reativos em área total (fosfatagem) com a dose em função dos teores de P disponíveis no solo e teor de argila, antecedendo o plantio da cultura.
Para disponibilização de P às plantas, é indicado o uso de fosfatos solúveis de forma localizada na linha/sulco de plantio (manutenção), com doses que variam de acordo com a cultura a ser plantada.
Com isso, a associação de fertilizantes fosfatados com substâncias húmicas pode aumentar a eficiência das plantas na absorção de P, resultando em incrementos de produtividade. Corcioli (2015) observou que a utilização de substâncias húmicas é eficiente no aumento da disponibilidade de P em solos de textura argilosa e arenosa.
Esses resultados foram melhor observados nos primeiros 14 dias após a aplicação dos fosfatos (SFT e Fosfato Natural Reativo) nas doses de 100, 200 e 400 kg ha-1 de P2O5.
A aplicação de ácidos húmicos juntamente com o fosfato no plantio pode ser mais eficiente. Mas, deve-se considerar o manejo operacional de plantio/adubação para que a aplicação seja feita da melhor maneira. Adubos húmicos sólidos podem ser aplicados juntamente com os fosfatos acidulados (SFT e MAP) na linha ou sulco de plantio, caso sejam fontes granuladas. Já os adubos húmicos líquidos podem ser aplicados no tratamento de sementes para grãos, ou no estágio inicial da cultura.
Cuidados
Deve-se evitar a aplicação de elevadas dosagens de adubos húmicos, visando reduzir efeitos fitotóxicos nas plantas, como observado por Nicchio et al. (2013) ao avaliar a aplicação de diferentes doses de ácidos húmicos no tratamento de sementes de milho.
Uma alternativa para evitar a aplicação de altas dosagens de adubos húmicos é sua aplicação com formulações NPK, pela incorporação das substâncias húmicas no grânulo do fertilizante, como o FH Humics (Heringer), seja para adubação de plantio ou cobertura, de acordo com a recomendação para a cultura, tipo de plantio e solo.
Viabilidade
O custo-benefício da aplicação de adubos húmicos + adubos fosfatados deve ser levado em conta em função das características dos adubos selecionados, como solubilidade, forma da fonte húmica (líquida ou sólida), manejo de aplicação e retorno financeiro esperado, considerando, conforme observado em diversos trabalhos na literatura, que os efeitos em longo prazo da aplicação de substancias húmicas aumentam a eficiência dos adubos fosfatados.