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Alerta para a mela do algodoeiro

Autor

Everaldo Paulo de Medeiros
Pesquisador de Química Analítica e Tecnológica da Embrapa Algodão
everaldo.medeiros@embrapa.br

A mela (honeydew) do algodoeiro, que causa a pegajosidade, é gerada principalmente pelas excretas decorrentes da infestação de mosca-branca (Bemisia tabaci) e pulgão (Aphis gossypii) na forma de uma solução contendo açúcares (trehalulose, melezitose, glicose, frutose e sacarose).

Esse é um dos maiores problemas mundiais relacionados à qualidade da fibra de algodão que causa impacto negativo ao produtor e à indústria têxtil. A mela também pode estar relacionada à maturidade da fibra do algodão, em que moléculas de glicose e outros açúcares não foram convertidos em celulose para composição da pluma.

Neste caso, entende-se que a celulose é um biopolímero natural formado pelo arranjo estrutural de moléculas de açúcares simples ligados em cadeia e que a fibra de algodão é composta por cerca de 95% de celulose.

A mela da fibra ou pegajosidade que causa prejuízo econômico a cadeia produtiva do algodão é, principalmente, de origem entomológica. Os insetos sugadores, como a mosca-branca, geram pequenas gotículas de substâncias açucaradas de baixo ponto de fusão em suas excretas, as quais aderem às folhas do algodoeiro e, por conseguinte, contaminam a pluma até a fase final de colheita.

Prejuízos à produção

O produtor poderá receber deságio pela indústria, com taxação de valores mais baixos para sua produção. Caso a pegajosidade não seja detectada com antecedência, o impacto negativo será fortemente observado durante o processamento da pluma na fase de obtenção de fios. As máquinas ficam impregnadas com a adesão da fibra, o que exige interromper o seu funcionamento e realizar a manutenção.

Incidência

A mela poderá ocorrer em qualquer região agrícola onde se cultiva algodão e que haja falhas no controle de pragas, com destaque para os insetos sugadores (por exemplo: mosca-branca e pulgão).

Além disso, poderá ser oriunda do uso excessivo de produtos químicos e adjuvantes na lavoura, além de materiais genéticos e de processamento que causam a geração de fragmentos de sementes no processamento da pluma e que venham a contaminar as fibras com resíduos de óleo pela presença de fragmentos de semente (seed-coat).

Sintomas

A identificação da mela é realizada por técnicas analíticas que permitem contar o número de pontos de pegajosidade e estimar o nível de contaminação presente em uma amostra. Em geral, são usadas técnicas de termodetecção em que os contaminantes aderem a uma superfície plana submetida a aquecimento junto com uma amostra de pluma para análise.

A análise de pegajosidade define a qualidade final da pluma para a indústria, mesmo que todas as características físicas da fibra sejam de alto padrão tecnológico. O principal efeito negativo é a adesão da fibra ao maquinário da indústria têxtil. É um sério problema também ao produtor, que poderá receber deságio na comercialização da safra em casos de confirmação.

Regiões mais afetadas

Todas as regiões produtoras de algodão, sejam no Brasil ou no mundo, poderão ser afetadas pela mela. O International Textile Manufacturers Federation realizou um mapeamento com os países produtores de algodão, divulgado em 2016, onde se observou que os países mais afetados são os maiores produtores.

Consequentemente, nas regiões produtoras, assim como em locais em que há expansão de área de cultivo, haverá necessidade de um maior controle de pragas sugadoras, rigor nas boas práticas agrícolas e um programa de qualidade para a fibra de algodão produzida.

A falha no controle de pragas sugadoras tende a ser o principal desafio para evitar a ocorrência da pegajosidade do algodão.

BOX

Formas de controle

Além das boas práticas agrícolas, se faz necessário em nível de produtor estabelecer o controle de qualidade da pluma com medidas de pegajosidade usando métodos validados, assim como já é realizado para as características físicas ou tecnológicas da fibra por HVI.

São conhecidas várias técnicas para detecção e quantificação, mas as mais difundidas são aquelas baseadas em termodetecção de alta velocidade (H2SD), sistema Fibermap, cromatografia, caramelização e uso de químicos reativos.

Mais recentemente, a Embrapa Algodão está envolvida no desenvolvimento de um método usando imagens espectrais para determinação rápida e não destrutiva da pegajosidade em pluma de algodão.

Custo

O custo de prevenção da pegajosidade é complexo de ser estimado. Mas, a simples ocorrência de pegajosidade em lotes a serem comercializados tem sido alvo de forte deságio ao produtor. Em alguns casos, há devolução de lotes inteiros quando se detecta altos níveis de contaminação na fibra.

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