Jorge Jacob Neto
Professor Titular, Ph.D., do Departamento de Fitotecnia ““ Instituto de Agronomia ““ UFRRJ
Joice de Jesus Lemos
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia
A associação do uso de aminoácidos com inseticidas, fungicidas e herbicidas tem diminuindo a aplicação destes produtos em várias culturas, o que pode diminuir o impacto ambiental provocado pelo uso excessivo destes defensivos químicos no campo.
Em culturas como a soja, os avanços tecnológicos têm tido uma grande contribuição das empresas agrícolas voltadas para o agronegócio, muitas vezes na frente das entidades de pesquisas e universidades. Isso é sinal de amadurecimento da área, visto que fato semelhante ocorreu em todos os países industriais com os seus avanços tecnológicos.
Os estudos envolvendo os efeitos da adubação nitrogenada sobre doenças e pragas das plantas são mais conhecidos do que aqueles relacionados ao uso dos aminoácidos.
O nitrogênio é um elemento essencial e está disponível no solo, água e no ar para as leguminosas fixadoras de nitrogênio atmosférico, como a soja. Há relatos na literatura científica de que uma planta bem nutrida com nitrogênio pode aumentar a suscetibilidade a doenças e até atrair mais insetos sugadores e mastigadores, como percevejos e lagartas. O efeito contrário também pode acontecer – planta bem nutrida pode aumentar a resistência a doenças e pragas.
As respostas negativas da adubação nitrogenada com relação ao aumento de doenças e atração de pragas talvez tenham desestimulado os estudos no sentido de utilizar este elemento auxiliador na proteção às plantas, embora o uso de nitrato no solo demonstrasse diminuir a incidência de fusariose em raízes de tomate e feijão.
Nestes últimos estudos, os autores estudaram as fontes nitrogenadas amônio e nitrato, encontrando que a aplicação do nitrato diminuiu a infestação da doença. O uso de nitrogênio mineral aumentando a resistência das plantas a doenças tem sido demonstrando, mas em soja, particularmente, é mais complicado, pois para esta cultura no Brasil a fonte de nitrogênio principal é o nitrogênio gasoso.
Este fato aumenta a importância de se adquirir mais conhecimento sobre o uso de aminoácidos com auxiliadores da tolerância das plantas a doenças e pragas, sendo que o nitrogênio é relacionado ao metabolismo de aminoácidos na planta.
Os aminoácidos contam, na sua estrutura, com nitrogênio ligado a sua molécula, entretanto, é uma substância com conformação orgânica, daà surgir a ideia de se utilizar carboidratos e aminoácidos como auxiliares na saúde das plantas.
Defesa
As plantas possuem um complexo mecanismo de defesa para proteção contra ataques de patógenos. Geralmente os caminhos dos mecanismos de defesa passam pelo reconhecimento do patógeno e a associação quase imediata a uma possível via de defesa molecular que induz a produção de proteínas antipatogênicas reativas ao oxigênio, como as fitoalexinas.
A maioria dos produtos comerciais vendidos no Brasil como bioestimulantes, bioreguladores e reguladores de crescimento, ou até mesmo com o nome “aminoácidos“, são compostos que contêm diferentes concentrações de um ou mais aminoácidos, que quando utilizados diretamente na planta de soja podem alterar seu metabolismo, induzindo a produção de compostos que auxiliam na primeira sinalização entre o patógeno e a planta.
Estes compostos podem ser chamados de sinalizadores e auxiliar a planta a repelir insetos, induzindo-as a aumentar substâncias indolores e repelentes. Não existem muitos estudos a este respeito, entretanto, se for encontrado um efeito, terá um significado extremamente relevante, pois as lagartas e percevejos são as mais importantes pragas na cultura da soja.
Estes produtos induzem a uma reação metabólica interna na planta, diferente, por exemplo, do efeito direto do silício nos estômatos.
Múltiplas funções
Um aminoácido de múltiplas funções é a prolina. O entendimento de seu processo metabólico pode auxiliar o conhecimento dos processos envolvendo outros aminoácidos que atuam em atividades primárias e secundárias das plantas.
Desde sua descoberta, muitos estudos têm demonstrado que uma planta sob estresse ambiental aumenta o conteúdo deste aminoácido. A prolina pode ser acumulada e degradada no citossol, cloroplasto e mitocôndria. Como ela atua no balanço redox e no processo energético da planta, sua função e sua atuação pode estar relacionada ao ataque de patógenos e até mesmo do ataque de insetos.
A soja é muito sensÃvel ao ataque de diferentes fungos, bactérias, vírus e insetos, provavelmente pelo seu alto teor de proteÃna, servindo de importante fonte alimentÃcia para estes organismos.
Como os aminoácidos agem como uma molécula sinalizadora, modulando a atividade da mitocôndria, eles podem influenciar a proliferação celular logo após a morte ou a supressão de uma determinada célula, ordenando a expressão genética para a recuperação do estresse que acabou de sofrer. Desta forma, se ocorrer o fornecimento de um aminoácido como a prolina, como adubo, talvez influencie a recuperação do estresse da planta.
Em plantas de arroz, por exemplo, o uso de aminoácidos + fosfito aplicados nos estádios de florescimento e de grão leitoso, foi capaz de controlar a infecção de Bipolarisoryzae de forma similar à aplicação isolada de fungicida trifloxistrobina + tebuconazol, nas mesmas fases.