Alfredo Scheid Lopes
Engenheiro agrônomo, mestre, PhD e professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
A aplicação do conceito dos 4C’s (produto certo, local certo, dose certa e época certa) é o que garante o sucesso da prática da adubação. Na maioria das vezes, princÃpios desenvolvidos décadas atrás ainda se aplicam para que as adubações alcancem os objetivos propostos quanto à produtividade das mais variadas culturas e com mÃnimos impactos ao meio ambiente.
Nesse sentido, para as culturas anuais, como o feijoeiro, a adubação correta, na maioria das vezes, seria aplicar no sulco de semeadura, 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da semente, 1/3 do nitrogênio, todo o fósforo e todo o potássio. Entre 25 e 30 dias após a emergência seria realizada a adubação em cobertura com nitrogênio, aplicando 2/3 da dose de N recomendada.
Nos últimos anos, entretanto, tem ocorrido uma tendência generalizada de antecipação da adubação fosfatada e, em alguns casos, da adubação potássica, com aplicação de fertilizantes a lanço em área total. Essa estratégia de manejo é utilizada para permitir maior agilidade na posterior operação de semeadura da cultura.
No ponto certo
A antecipação da adubação fosfatada e potássica no feijoeiro pode oferecer bons resultados em relação à produção e produtividade da cultura, mas isso não é regra geral e merece uma discussão mais detalhada, levando-se em conta os seguintes pontos:
â–º O fósforo e o potássio fornecidos pelos fertilizantes são supridos às plantas principalmente pelo processo de difusão, o que significa que esses nutrientes não se movimentam mais do que poucos milÃmetros do ponto de aplicação para chegar às raízes e serem absorvidos pelas plantas. Isso faz com que seja crucial a distribuição dos fertilizantes contendo esses nutrientes ao longo da linha de semeadura, 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da semente.
â–º Quando um solo está adequadamente suprido de fósforo e de potássio, ou seja, com o decorrer de anos de cultivos e uso de adubações adequadas, a disponibilidade desses nutrientes nas análises de solo estará adequada ou alta (ver tabelas de interpretação de análises de solos). Essa antecipação da adubação fosfatada e potássica poderá ser realizada com a distribuição dos fertilizantes a lanço em área total, sem ocorrer prejuízos à produtividade do feijoeiro.
â–º Entretanto, quando essa antecipação da adubação fosfatada e potássica é realizada em solos deficientes nesses nutrientes, a produtividade poderá ser afetada por dois motivos:
1) No caso da antecipação da adubação fosfatada, com distribuição do fertilizante a lanço em área total, o problema da fixação de fósforo com compostos de ferro e alumÃnio dos nossos solos será intensificado, diminuindo a disponibilidade de fósforo na solução do solo para a nutrição adequada do feijoeiro.
Esse problema torna-se mais intenso quanto maior for o tempo entre a adubação antecipada de fósforo e a semeadura do feijão. Além disso, o processo é acelerado com a adequada disponibilidade de água no solo no período precedente à semeadura;
2) no caso da adubação potássica, o problema da antecipação está ligado à excessiva diluição das doses aplicadas de fertilizantes potássicos a lanço em áreas deficientes desse nutriente. Não havendo potássio suficiente ao lado e abaixo da semente, a nutrição potássica será afetada para menos.
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Otimização
Para otimizar a interpretação da análise de solo em relação à disponibilidade de fósforo no solo são apresentados, na Tabela 1, os critérios relativos ao método de Mehlich-1 (que é adotado na maioria dos laboratórios do Brasil), e na Tabela 2 os critérios pelo método da Resina, utilizado nos laboratórios do sistema IAC.
Na Tabela 1 a interpretação do resultado da análise, para verificar se a disponibilidade de fósforo no solo está adequada (o que aumentaria a probabilidade de sucesso na antecipação da adubação fosfatada) é levado em consideração: se a cultura é de sequeiro ou irrigada; e a percentagem de argila ou do P-remanescente da área a ser cultivada com o feijoeiro. Nesta mesma Tabela 1, a interpretação da disponibilidade de potássio,que deve ser pelo menos adequada, leva em consideração a CTC a PH 7,0 da gleba considerada.
Tabela 1. Interpretação de análise de solo para fósforo pelo extrator Mehlich1 em função da percentagem de argila ou do nível de P remanescente e para potássio pelo extrator de Mehlich em função de níveis de CTC a pH7,0.
 |  | Fósforo disponível, extrator Mehlich 1 – sistemas de sequeiro | |||||||||||||||||||||||||||||
Teor de argila (%) | P remanescente | Muito
baixo |
Baixo | Médio | Adequado | Alto | |||||||||||||||||||||||||
————————————-mg/dm3———————————— | |||||||||||||||||||||||||||||||
≤ 15 | 46 a 60 | 0 a 6 | 6,1 a 12 | 12,1 a 18 | 18,1 a 25 | > 25 | |||||||||||||||||||||||||
16 a 35 | 31 a 45 | 0 a 5 | 5,1 a 10 | 10,1 a 15 | 15,1 a 20 | > 20 | |||||||||||||||||||||||||
36 a 60 | 11 a 30 | 0 a 3 | 3,1 a 5 | 5,1 a 8 | 8,1 a 12 | > 12 | |||||||||||||||||||||||||
> 60 | ≤ 10 | 0 a 2 | 2,1 a 3 | 3,1 a 4 | 4,1 a 6 | > 6 | |||||||||||||||||||||||||
 |  | Fósforo disponível, extrator Mehlich 1 – sistemas irrigados | |||||||||||||||||||||||||||||
————————————-mg/dm3———————————— | |||||||||||||||||||||||||||||||
≤ 15 | 46 a 60 | 0 a 12 | 12,1 a 18 | 18,1 a 25 | 25,1 a 40 | > 40 | |||||||||||||||||||||||||
16 a 35 | 31 a 45 | 0 a 10 | 10,1 a 15 | 15,1 a 20 | 20,1 a 35 | > 35 | |||||||||||||||||||||||||
36 a 60 | 11 a 30 | 0 a 5 | 5,1 a 8 | 8,1 a 12 | 12,1 a 18 | > 18 | |||||||||||||||||||||||||
> 60 | ≤ 10≤≤≤ | 0 a 3 | 3,1 a 4 | 4,1 a 6 | 6,1 a 9 | > 9 | |||||||||||||||||||||||||
Potássiodisponível, extratorMehlich 1 | |||||||||||||||||||||||||||||||
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Fonte: Adaptado de Sousa e Lobato, 2004.
Na Tabela 2 são apresentados os critérios de interpretação da disponibilidade de fósforo e potássio extraÃdos pela resina, sistema utilizado nos laboratórios que adotam o sistema IAC. Neste caso, a disponibilidade de fósforo e potássio deve estar, pelo menos, na faixa considerada alta para elevar a probabilidade de sucesso na antecipação das adubações fosfatadas e potássicas.
Tabela 2. Interpretação de análise de solo para fósforo e potássio, para culturas anuais, pelo método da Resina
——————————————————-Fósforo———————————————————– | ||||
————————————————Produção Relativa (%)———————————————– | ||||
0-70 | 71-90 | 91-100 | > 100 | > 100 |
—————————————————-Fósforo (mg/dm3)————————————————– | ||||
Muito baixo | Baixo | Médio | Alto | Muito alto |
0 a 6 | 7 a 15 | 16 a 40 | 41 a 80 | > 80 |
————————————————-Potássio (mmolc/dm3)———————————————— | ||||
0,0 a 0,7 | 0,8 a 1,5 | 1,6 a 3,0 | 3,1 a 6,0 | > 6,0 |
Fonte: Raijet al. (ed.), 1996.