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Fernando Kuhnen
Engenheiro agrônomo, doutor e professor titular da Faculdade Anhanguera de Dourados
O feijoeiro é considerado uma planta exigente em nutrientes, em função do pequeno e pouco profundo sistema radicular e do ciclo curto. Por isso, é fundamental que o nutriente seja colocado à disposição da planta em tempo e local adequados.
O fósforo (P) é o nutriente mais deficiente na maioria dos solos brasileiros, principalmente quando se trata de solos no bioma cerrado, onde sua aplicação como fertilizante é fator indispensável para aumento das produções de feijão.
O P é o nutriente que possui maior interação com o solo, por isso, apesar de estar figurando em terceiro ou quarto nutriente mais absorvido pelas plantas (N e K são os mais absorvidos), é o que possui maior taxa de aplicação. Para a produção de 1 t ha-1 de grãos de feijão, considerando a planta inteira, a absorção é entre 80 a 100 kg ha-1 de N e de 60 a 94 kg ha-1 de K. Já para o P, a absorção está em torno de 9 kg ha-1.
A fixação do P no solo é o fator que leva à maior aplicação, mesmo que absorvido em menores quantidades, sendo agravado em solos com maior teor de argila.
No feijoeiro
Para os fertilizantes fosfatados, e também os potássicos, tradicionalmente a aplicação na cultura do feijão é realizada na linha de semeadura e, em geral, abaixo e ao lado da linha das sementes (em torno de 5 cm de profundidade).
Em virtude das reações de fixação do P para o solo ou pela precipitação desse nutriente em solução com Fe, Al e Ca, a aplicação localizada na linha de semeadura diminui o contato do P com o solo, diminuindo as perdas deste nutriente.
Porém, a aplicação de P na linha de semeadura deve ser utilizada com cautela, pois, embora tenha a vantagem de reduzir temporariamente a fixação deste elemento pelo solo, o elemento contribui para a redução do volume de raízes, localizando-as, desta forma, de modo particular as raízes mais finas.
Mais produtividade
Resultados de pesquisas demonstram que a aplicação do fósforo realizado a lanço é uma alternativa para alcançar maiores produtividades, por contribuir para a nutrição da planta e melhorar o crescimento do sistema radicular.
O principal benefÃcio da aplicação a lanço e incorporado do adubo fosfatado é a localização do fertilizante em profundidade, por meio de operação de mobilização do solo após a sua distribuição a lanço, na expectativa que isso possa favorecer melhor a distribuição do sistema radicular das plantas e, desta forma, aumentar o volume de solo com sistema radicular para absorção de água e nutrientes, contribuindo para uma maior tolerância das plantas a períodos de deficiência hÃdrica e melhor aproveitamento da fertilidade natural do solo.
Em experimento realizado em casa de vegetação utilizando seis doses de P e três modos de aplicação, Oliveira et al. (2001) determinaram que o maior crescimento do feijoeiro foi observado quando o fósforo foi aplicado em cobertura e incorporado ao solo antes do plantio.
Outro referencial para a incorporação de adubo fosfatado está na quantidade a ser aplicada. Souza et al. (2004) afirmam que, para culturas anuais, a aplicação de fertilizantes fosfatados a lanço e incorporados no solo promovem um sistema radicular mais volumoso, mas que essa aplicação deve ser utilizada para doses superiores a 100 kg/ha de P2O5 e em solos com baixa disponibilidade de P, devendo a aplicação ser feita em menores doses, no sulco de semeadura.
Quando e de que forma aplicar
O P é um elemento pouco móvel no solo e seu suprimento para as raízes é efetuado principalmente pelo processo de difusão, o qual depende da umidade do solo e da superfície da raiz. A absorção de fósforo apresenta maior pico dos 30 aos 55 dias após emergência, caracterizando o final do florescimento, quando já existem algumas vagens formadas, com absorção de 0,20 kg ha-1 a 0,30 kg ha-1 de P dia-1.
Considerando o P como elemento pouco móvel, a aplicação do adubo fosfatado a lanço deve ser realizada antes da semeadura (pré-semeadura), e incorporado ao solo. Esta prática aumenta e uniformiza a distribuição do nutriente na camada de 0 a 20 cm de profundidade, onde se concentra o maior volume de raízes das plantas.
A aplicação antecipada deste nutriente, em relação à semeadura, pode implicar em significativas perdas de P na forma fixada pelo solo, já que o tempo de contato da fonte de P com o solo atua sobre a disponibilidade deste nutriente para as plantas.
Deste modo, deve-se optar por aplicar ao solo pouco tempo antes da semeadura da cultura.Há a possibilidade de aplicação de P após a semeadura da cultura do feijão, porém, sem incorporação, mas como a maioria dos solos brasileiros apresenta baixa disponibilidade deste nutriente, o mais indicado é a sua aplicação antes da semeadura.