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Bioestimulante Alternativa para fortalecer as plantas

Autor

Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
nilvatteixeira@yahoo.com.br

Considera-se bioestimulante qualquer substância ou microrganismo aplicado nas plantas visando melhorar a absorção e o aproveitamento dos nutrientes, a tolerância a estresses abióticos e a produção e sua qualidade, independentemente de seu conteúdo nutricional.

Tal conceito pode abranger aminoácidos, ácidos húmicos e fúlvicos, extratos de algas, microrganismos benéficos ou, ainda, a mistura dos mesmos. Muitos desses produtos aumentam a absorção de água e de nutrientes pelas plantas, bem como sua resistência aos estresses hídricos e aos efeitos residuais de herbicidas no solo, fazendo com que seu uso na agricultura seja crescente.

Desenvolvimento vegetal

Os aminoácidos são compostos preciosos: são os constituintes de proteínas, que têm funções estruturais e enzimáticas, são precursores de hormônios (como o triptofano) e das clorofilas, entram na síntese de componentes dos ácidos nucleicos, entre outros aspectos. Além disso, há aminoácidos com funções específicas. Confira, na tabela 1, algumas dessas funções.

Tabela 1 – Funções dos aminoácidos nas plantas (Teixeira, 2015)

Ácido aspártico Fonte abundante de nitrogênio e responsável pela translocação do nitrogênio pelo floema.
Ácido glutâmico É sintetizado pela incorporação da amônia em compostos orgânicos, dando origem a vários aminoácidos. É a principal via de entrada de N mineral nos compostos orgânicos nas plantas.
Alanina Participa da formação e germinação do grão de pólen.
Arginina Influi na fotossíntese e participa do crescimento e transporte dos nutrientes para flores, frutos e sementes.
Fenilalanina e tirosina Responsável pelos processos de senescência e dormência.
Glicina Importante na fotossíntese, fazendo parte do processo de síntese de clorofila.
Histidina Regulador da concentração do ácido aspártico.
Lisina Ativadora da clorofila e retardadora da senescência.
Prolina Reserva de nitrogênio facilmente assimilável e utilizada pela planta como defesa contra o déficit hídrico e o estresse térmico.
Valina Atua na regulação do crescimento e maturação dos frutos.
Triptofano Precursor da síntese do Ácido Indolil Acético (AIA), hormônio de crescimento.
Cisteína Presente na assimilação do enxofre, precursor da lignina.
Serina Precursor do triptofano.
Metionina Presente na assimilação do enxofre e precursor do hormônio etileno.

Fonte: TEIXEIRA, N. T. Estratégias que potencializam a produção cafeeira. Anuário do café, Uberlândia: Campo & Negócios, p. 48-63, 2015

Ação e reação

Para entender a ação dos ácidos húmicos e fúlvicos como bioestimulantes, é necessário entender o que são tais substâncias. São compostos derivados da decomposição e sedimentos orgânicos pela ação enzimática de microrganismos ou de agentes químicos.

Beneficiam as propriedades químicas, físicas e microbiológicas do solo, constituindo-se em fonte de energia e de nutrientes para a biota do solo, exercendo um importante papel na fertilidade e na produtividade dos mesmos. Também, indiretamente beneficia a biologia do solo pelos seus efeitos nas propriedades físicas e químicas, sendo fornecedor de carbono para os microrganismos, favorecendo a vida vegetal, justificando-se como melhorador ou condicionador de solo.

As denominadas substâncias húmicas, que representam cerca de 85 a 90% do carbono orgânico nos solos minerais, compõem-se de:

– Humina: fração insolúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluído. Possui reduzida capacidade de reação;

 – Ácidos húmicos: fração escura solúvel em meio alcalino, precipitando-se em forma de produto escuro e amorfo em meio ácido. São materiais complexos, formados por compostos aromáticos e alifáticos com elevado peso molecular e grande capacidade de troca catiônica. Combina-se com elementos metálicos formando humatos, que podem se precipitar em cátions ou permanecer em dispersão coloidal;

– Ácido fúlvico: fração colorida, solúvel em meio alcalino ou em meio ácido diluído. Quimicamente são constituídos, principalmente, por polissacarídeos, aminoácidos e compostos fenólicos. Apresentam alto conteúdo de grupos carboxílicos e seu peso molecular é relativamente baixo. Combinam-se com óxidos de Fe, Al, argilas e outros compostos orgânicos. Possuem propriedades redutoras e formam complexos estáveis com Fe, Cu, Ca.

Os ácidos húmicos e fúlvicos reduzem a densidade aparente do solo, pois têm um papel preponderante na agregação das partículas do solo, tornando-os pouco produtivos, melhorando a penetração de raízes, retenção e infiltração e distribuição de água. Também incrementam a CTC (capacidade de troca catiônica) e a CTA (capacidade de troca aniônica), protegendo e disponibilizando os cátions e ânions para as plantas.

 As substâncias húmicas atuam, também, diretamente na biologia desenvolvimento, principalmente do sistema radicular das culturas. Promovem agregação das partículas do solo, beneficiando, assim, a estrutura do perfil e, por conseguinte, propiciam a redução da densidade e maior capacidade de retenção de água do solo. Aumentam as cargas do solo e, assim, a sua capacidade de retenção de nutrientes, minimizando as perdas por lixiviação.

Múltiplos efeitos

Ainda, os ácidos húmicos e fúlvicos exercem múltiplos efeitos no desenvolvimento das plantas, pois beneficiam seu metabolismo, a respiração e fotossíntese. Diversos trabalhos mostram o efeito direto das substâncias húmicas sobre a ação de algumas enzimas, como o que ocorre em relação à supressão da atividade da enzima AIA-oxidase, o que causa aumento de teores de ácido indolilacético (AIA) no tecido vegetal, resultando em maior desenvolvimento e produção da planta.

As substâncias húmicas provocam o aumento dos teores de clorofila, de ácidos nucleicos e de proteínas. Ainda, influenciam positivamente no transporte de íons e na absorção dos mesmos. Os ácidos húmicos e fúlvicos são uma fonte de polifenóis, que funcionam como catalisadores da respiração e aumentam a resistência das plantas a fatores externos. Beneficiam, também, a vida microbiológica do solo.

Assim, a aplicação de tais ácidos nas plantas ou no solo pode estimular o arranque inicial das plantas, seu desenvolvimento vegetativo e produção.

Efeito bioestimulante das algas

Outros formulados empregados como bioestimulantes são as algas marinhas, que são fontes de vitaminas, glicoproteínas, como o alginato, de aminoácidos e de estimulantes naturais, como: auxinas (hormônios do crescimento que governam a divisão celular), giberelina (que induz floração e alongamento celular) e citocininas (hormônio da juventude e do retardamento da senescência.

O alginato tem a capacidade de reter água no solo e de cedê-la às plantas Então, formulados contendo algas, se aplicados na agricultura, podem beneficiar a produção vegetal.

Além das substâncias citadas, outros compostos extraídos de macroalgas induzem resistência às pragas e doenças, reduzindo a severidade de sintomas. Muitos dos compostos de macroalgas marinhas que apresentam atividades biológicas pertencem à classe de lectinas, terpenos, compostos fenólicos e polissacarídeos sulfatados, que funcionam como elicitores.

Defesa

As plantas possuem mecanismos próprios de defesa em resposta ao ataque de patógenos, incluindo metabólitos primários e secundários. A ativação dos mecanismos de defesa dos vegetais é uma resposta ao reconhecimento da presença, nos mesmos, dos agentes patogênicos, identificados por compostos liberados pelo organismo invasor.

Tais compostos, produtos do metabolismo do patógeno, são chamados de elicitores bióticos e desencadeiam modificações no metabolismo celular vegetal (a elicitação), formando assim uma rede de mecanismos de defesa da planta ao ataque do patógeno.

Como exemplo, pode-se mencionar o aumento da síntese de compostos denominados de fitoalexinas. Tal rede tenta barrar a penetração do invasor e sua multiplicação.

O que são elicitores? São moléculas de origem biótica ou abiótica capazes de estimular qualquer resposta de defesa nas plantas. Extratos de algas têm mostrado certa eficiência na ativação da resistência de plantas à patógenos. A resistência induzida envolve a ativação do sistema de autodefesa da planta e mecanismos latentes de resistência, que pode ser obtida pelo tratamento com agentes elicitores bióticos, como microrganismos viáveis ou inativados, ou por agentes elicitores abióticos.

Assim, o uso de produtos contendo algas marinhas pode, além de nutrir e estimular o desenvolvimento e produção, aumentar a resistência da planta aos fitopatógenos, minimizando, ou até descartando, a necessidade de controle químico, o que propicia menor custo de produção e frutos mais saudáveis.

 Então, o uso isolado ou associado de aminoácidos, ácidos húmicos e fúlvicos e algas marinhas pode produzir excelentes resultados.

Recomendações

Quando, quanto e quando aplicar: por ocasião do plantio, misturado aos fertilizantes, pulverizando no sulco de plantio ou por irrigação. Em plantações já estabelecidas: por fertirrigação ou pulverização.

O importante é seguir recomendações técnicas, de acordo com o produto a empregar. Destaca-se que qualquer cultura pode se beneficiar com o uso destes produtos, mas é importante seguir as indicações de especialistas.

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