Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, fitopatologista e doutor em Fitotecnia
LÃsias Coelho
Engenheiro florestal, fitopatologista, Ph.D. e professor do ICIAG-UFU
Um dos maiores causadores de perdas à produção de café são as doenças do cafeeiro, entre elas aquelas causadas por nematoides (nematoses), que são bastante prejudiciais.
Os nematoides podem ser parasitas de plantas e animais ou predadores de vida livre. Aqueles que parasitam plantas são denominados fitonematoides, e são mais de 600 espécies descritas atualmente, com novas espécies sendo regularmente identificadas.
Os gêneros de fitonematoides mais importantes para a agricultura são: Meloidogyne, Pratylenchus, Heterodera, Rotylenchulus, Globodera e Tylenchulus (Rossetto e Santiago, 2005).
Danos
Os fitonematoides geralmente atacam as raízes das plantas provocando alterações morfofisiológicas que comprometem a absorção de água e nutrientes do solo, afetando o desenvolvimento regular da cultura e, consequentemente, sua produção.
As perdas anuais causadas por fitonematoides às culturas agrícolas mundiais estão entre 80 e 125 bilhões de dólares (Chitwood, 2003; Decraemer; Hunt, 2006; Nicolet al., 2011).
A cultura do café não é exceção e é consideravelmente afetada por nematoides que prejudicam o desenvolvimento de seu sistema radicular. As espécies de nematoides que causam mais danos e perdas ao cafeeiro são dos gêneros Meloidogyne (nematoide de galha) e Pratylenchus (nematoide de lesões).
O caso do Brasil
No Brasil, os híbridos de cafeeiro cultivados são de duas espécies, Coffeacanephora e C. arabica, que é a menos resistente, principalmente ao nematoide de galha (Inomoto, 2013). O aumento do plantio de cafeeiros, a movimentação livre de mudas e a condição perene da cultura contribuem para disseminar e aumentar o número de espécies de fitopatógenos parasitas do cafeeiro (Campos; Villain, 2005).
As duas espécies de Pratylenchus (P. brachiurus e P. coffea) que infectam o cafeeiro penetram e se movimentam ao longo das raízes causando lesões, necroses e podridões que inutilizam as raízes e constituem portas de entrada para outros microrganismos do solo, como Fusarium, Phytophthora, Ralstonia, Rizoctonia e Verticillium.
A espécie P. brachiurus é a mais comum no Brasil, enquanto P. coffea é mais comum nas demais regiões cafeÃcolas do mundo (Gonçalves et al., 1987; Kuboet al., 2001). Contudo, apesar dos estragos causados ao sistema radicular do café por Pratylenchus spp., os prejuízos infligidos por nematoides do gênero Meloidogyne são maiores.
Os nematoides desse gênero infectam centenas de plantas hospedeiras das mais diversas famílias botânicas (Mitkowski; Abawi, 2003). No cafeeiro, as seguintes espécies de nematoide de galha já foram descritas no Brasil: M. arenaria, M. coffeicola, M. exigua, M. hapla, M. incognita, M. javanica e M. paranaensis (Campos, 1997; Santos, 1997; Carneiro et al., 2005).
Em 1997, o professor Jaime Maia Santos, em cooperação com Dr. AnarioJaehn, da FCA de Botucatu (falecido) e Dr. Wallace Gonçalves, do IAC Campinas, descreveram uma nova espécie de Meloidogyne coletada em Dracena (SP) e a nomearam M. goeldii.
Entre essas espécies de Meloidogyne que infectam o cafeeiro, as mais agressivas são M. incognita (alta persistência no solo sem hospedeiros, encontrado em PR, SP, MG, ES), M. paranaensis (muito prejudicial, causando morte rápida do cafeeiro, encontrado em PR, SP, MG, MT) e M. exigua (amplamente distribuído, encontrado em RJ, SP, MG, PR, ES, CE, BA e DF) (Castro et al., 2003; Campos; Villain, 2005; Oliveira, 2006).
Sintomas
As raízes atacadas por nematoides de galha ficam permanentemente comprometidas, ocasionando reduções significativas na produção de grãos e, dependendo da infestação, podem levar ao abandono da cafeicultura na área (Gonçalves; Silvarolla, 2001).
As perdas de produção por nematoide de galha no cafeeiro variam entre 10 e 25% (Campos; Villain, 2005; Koenninget al., 1999), sendo estas perdas um reflexo dos danos causados ao sistema radicular pelas galhas formadas.
As galhas causadas pelo nematoide de galha são expansões das raízes, que se iniciam com a infecção das radicelas e assumem um aspecto globoso com o tempo. As galhas podem ser solitárias ou coalescidas (união de várias galhas) e resultam em uma raiz deformada, inchada ao longo de sua extensão.
As raízes infectadas pelo nematoide de galha absorvem água e sais minerais precariamente, causando a clorose das folhas do cafeeiro, desfolha prematura, maior sensibilidade a estresses (p.ex. veranicos), reduzido desenvolvimento da parte aérea, queda de produção e, em condições extremas de infestação, a morte da planta.
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