Alfredo Junior Paiola Albrecht
Leandro Paiola Albrecht
Professores da Universidade Federal do Paraná(UFPR) ““ setor Palotina e Supervisores do Grupo Supra Pesquisa
Arthur Arrobas Martins Barroso
Professor da UFPR ““ Setor de Agrárias em Curitiba
Enoir Cristiano Pellizzaro
Engenheiro agrônomo, mestre em Ciências Agrárias esupervisor do Campo Experimental na C.Vale Cooperativa Agroindustrial
Capim-amargoso -provavelmente todo produtor em todas as regiões do Brasil já ouviu falar ou convive com essa planta daninha, seja em cultivos anuais, seja em perenes. Essa infestante já é um dos principais problemas da agricultura brasileira e talvez se torne o principal.
Para auxiliar o agricultor a vencer esse inimigo da produção, o artigo vai informar sobre a complexidade do problema, o controle correto e, assim, proporcionar o eficiente manejo da planta daninha.
O controle desse inimigo da agricultura é difícil e exige a adoção de diferentes estratégias, sejam químicas ou não. Portanto, há a necessidade de utilizarmos estratégias de controle em todas as fases, quer na pré-emergência, com a utilização de produtos residuais, quer na pós-emergência, com produtos específicos para isso.
Espécie problemática atual
O Brasil, segundo pesquisadores, é o país das Américas em que ocorre o maior número de plantas do gênero Digitaria. São 38 espécies, das quais 26 nativas e 12 exóticas, e em específico o capim-amargoso (Digitaria insularis – Poaceae) é uma gramÃnea, perene, rizomatosa, e que forma touceiras.
Cada planta produz até 60 mil sementes por ano, as quais são facilmente propagadas pelo vento. Possui metabolismo fotossintético do tipo C4 (alta eficiência na produção de biomassa em condições de temperaturas elevadas), pode produzir aleloquímicos (que gera alelopatia), abriga pragas (como os percevejos), doenças (como o cancro cÃtrico), sendo agressiva na competição e, assim, interferindo na produtividade agrícola das culturas.
Segundo pesquisas conduzidas pela Embrapa Soja e Unesp de Jaboticabal, o rendimento médio na soja e no milho pode ser afetado em até 44% e 54%, respectivamente (em densidades de 04 a 08 plantas/m2). Assumindo este convÃvio com plantas de capim-amargoso, o produtor pode perder até metade da sua produção devido a essa infestante.
Tais resultados foram confirmados em pesquisas conduzidas a campo na região oeste do Estado do Paraná, nos anos de 2015, 2016 e 2017, pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e Supra Pesquisa (Grupo de Pesquisa em Sistemas Sustentáveis de Produção Agrícola).
Problema grave
A dificuldade de controle do capim-amargoso com herbicidas é relatada há muito tempo. O primeiro relato da suscetibilidade diferencial ao herbicida glyphosate entre plantas desta espécie ocorreu em 2006, no Paraguai.
No Brasil, Fernando Adegas e DionÃsio Gazziero da Embrapa Soja identificaram plantas resistentes no oeste do Paraná, no ano de 2008 (http://www.weedscience.org/Details/Case.aspx?ResistID=5350). Nos últimos anos, em uma amostragem de 2.593 populações do capim-amargoso no Brasil, 57% apresentaram-se resistentes ao herbicida glyphosate.
Os casos mais preocupantes encontram-se no Estado do Paraná, onde mais de 80% das populações amostradas confirmaram-se resistentes, indicando a urgência de estratégias de manejo dessa espécie para o Estado (segundo afirmam Ramiro F. Lopez Ovejero e colaboradores de uma pesquisa publicada em 2017 pela Weed Science SocietyofAmerica).
No entanto, o problema não está somente no Paraná, e infelizmente, hoje, segundo estudos recentes, a área com problema de capim-amargoso é maior que oito milhões de hectares. Ou seja, a área com problema de capim-amargoso já é aproximadamente metade daquela cultivada com milho e será em breve um terço da área de soja. Em outras palavras, o problema é grande e só tende a aumentar.
E essa ocupação ou domÃnio das lavouras leva a prejuízos para o agronegócio brasileiro, que para o caso do capim-amargoso pode chegar a valores exorbitantes só no controle. Em estudo publicado recentemente pela Embrapa Soja (Circular Técnica 132, de agosto de 2017), chegou-se aos seguintes números: o custo total de controle aumenta para o intervalo entre R$ 1.454.200.000,00 a R$ 2.047.650.000,00, com incremento médio de R$ 1.750.925.000,00 ao ano, levando em consideração a resistência ao glyphosate.
O pior cenário em relação ao aumento dos custos é a presença de capim-amargoso e buva (Conyza spp.) em infestação mista, situação estimada em 2,7 milhões de hectare, onde os custos aumentam entre R$ 793.260.000,00 e R$ 1.294.650.000,00, com incremento médio de R$ 1.041.255.000,00 por ano. O mesmo estudo ainda aponta valores assustadores para o controle na cultura da soja, que pode chegar por hectare para o produtor a R$ 372,30 para controle de capim-amargoso e R$ 479,50, se tiver capim-amargoso mais buva.
E fica o alerta, pois as coisas podem piorar! Por quê? Simplesmente porque estamos “fazendo sempre as mesmas coisas do mesmo jeito“! Melhor dizendo, está sendo feito um mau manejo, aumentando a pressão de seleção e agravando a questão de resistência das plantas daninhas em geral. Isso será explicado melhor a seguir.
O impacto da resistência do capim-amargoso a herbicidas
A resistência de plantas daninhas é um problema global. Hoje, existem no mundo 486 casos únicos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, compreendendo 253 espécies. No Brasil há 49 casos registrados, entre eles a resistência do capim-amargoso ao herbicida glyphosate.
Ressalta-se ainda que já existem populações de capim-amargoso com resistência somente a herbicidas graminicidas inibidores da ACCase, principal ferramenta utilizada no controle químico em pós-emergência da espécie quando resistente ao glyphosate. Informações como as anteriormente mencionadas são atualizadas constantemente e podem ser consultadas no “InternationalSurveyofHerbicideResistantWeeds“ (http://www.weedscience.org/Summary/Country.aspx).