Autores
Ricardo Bemfica Steffen
Doutor em Ciência do Solo e pós-doutor em Organismos do Solo e Insumos Biológicos para Agricultura
agronomors@gmail.com
Gerusa Pauli Kist Steffen
Doutora em Ciência do Solo e pesquisadora do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul (SEAPI)
A microbiologia do solo vem ganhando destaque entre as tecnologias no campo. Nos últimos anos, produtos à base de microrganismos e sistemas de manejo que visam incrementar a biologia do solo têm resultado em qualidade produtiva surpreendente. Embora a pesquisa agrícola já conheça o potencial dos agentes biológicos, o campo está descobrindo e aprovando esta ferramenta.
Recentemente, a Embrapa Arroz e Feijão publicou os resultados da utilização dos microrganismos Rhizobium tropici e Azospirillum brasiliense na cultura do feijão. A coinoculação, também conhecida como inoculação mista destes dois microrganismos reconhecidos pela eficiência na fixação biológica de nitrogênio, representa retorno econômico médio de 11% aos produtores, devido à possibilidade de redução do volume de fertilizante nitrogenado e maior eficiência da planta pela ação dos agentes microbianos.
A FBN
A capacidade de realizar a FBN é exclusivamente restrita a alguns microrganismos procariotos. Tais microrganismos, denominados de diazotróficos, podem existir como fixadores de vida livre (independentes) ou em associações de diferentes graus de complexidade com outros organismos.
Independentemente do sistema fixador de N2, ele só existe graças à habilidade fisiológica de alguns organismos em sintetizar o complexo enzimático nitrogenase, o qual é responsável pela conversão do N2 atmosférico em amônia.
Embora a produção de biomassa e de grãos das leguminosas seja equivalente quando em simbiose com rizóbio ou quando as plantas são adubadas com nitrogênio mineral, a primeira via deve ser a preferida, tanto em termos econômicos quanto ambientais.
O feijoeiro, assim como as demais leguminosas, possui a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico quando em associação simbiótica com microrganismos específicos, como no caso das bactérias do gênero Rhizobium.
Atualmente, são conhecidas seis espécies de Rhizobium que formam associação simbiótica com o feijoeiro. Devido à adaptação às condições ambientais de regiões tropicais, a espécie Rhizobium tropici é a mais utilizada no cultivo do feijão. A espécie, quando em associação com a planta, atua na formação de estruturas hipertróficas nas raízes e, excepcionalmente, no caule, denominadas nódulos.
A capacidade de fixação biológica de nitrogênio destes microrganismos ocorre devido ao complexo enzimático nitrogenase, que converte o N2 em amônia, e assim disponibiliza nitrogênio atmosférico para as plantas, sem custos com adubação nitrogenada.
Já as bactérias do gênero Azospirillum são denominadas de rizobactérias promotoras de crescimento de plantas, as chamadas RPCPs. Este gênero de bactérias são as mais conhecidas entre as bactérias não simbióticas.
Versatilidade
O Azospirillum atua não somente na FBN, mas na produção de hormônios vegetais, como auxina, giberelina e citocinina. Por ser uma bactéria versátil, a utilização do Azospirillum resulta em maior rendimento de grãos, contribuindo com aportes adicionais de nitrogênio, suprindo parcialmente as necessidades das plantas.
A ação de síntese de hormônios vegetais atua no estímulo ao crescimento das raízes, resultando em maior volume de solo explorado, contribuindo para maior absorção de água e nutrientes pelas plantas, refletindo diretamente em produtividade de grãos.
Recomendações
O sistema de manejo com a utilização dos microrganismos Rhizobium tropici e Azospirillum brasiliense consiste na inoculação do Rhizobium via sementes e aplicações via aérea do Azospirillum no início da fase vegetativa do feijão (estágios V2 e V3).
Segundo recomendações da Embrapa Cerrados, a inoculação do Rhizobium na semente deve ocorrer à sombra, nos horários de temperatura mais amena. Após a secagem das sementes, o plantio deve ocorrer em até 24 horas.
Custo
O investimento na coinoculação do feijoeiro dependerá da dosagem utilizada. As recomendações de aplicação variam de acordo com o histórico de aplicações em determinada área. De forma geral, o investimento no inoculante à base de Rhizobium tropici representa, em média, R$ 8,00 o hectare. Já as aplicações de Azospirillum brasiliense representam investimento um pouco superior. No entanto, o retorno econômico quando da utilização desta tecnologia é significativo, justificando sua utilização.
Atenção
Salienta-se que a tecnologia de inoculação mista de agentes microbianos em culturas agrícolas, assim como as demais tecnologias que visam otimizar o sistema produtivo, devem ser utilizadas como ferramentas adicionais em sistemas equilibrados.
A resposta das tecnologias em termos produtivos depende diretamente da qualidade do solo. Sistemas produtivos equilibrados física, química e biologicamente responderão de forma mais significativa a estas ferramentas biotecnológicas.
Estudos recentes apontam que o grande benefício da utilização da coinoculação do feijoeiro está relacionado às questões ambientais. A eficiência dos agentes bacterianos em fixar o nitrogênio atmosférico e os benefícios ao desenvolvimento vegetal resultante da inoculação mista destes agentes, aliado à utilização racional do fertilizante nitrogenado, representam ações importantes para a manutenção da sustentabilidade dos sistemas produtivos.