André Luís Teixeira Fernandes
Eduardo Mosca
Rodrigo Ticle Ferreira
Engenheiros agrônomos, C3 Consultoria e Pesquisa
A cafeicultura é uma das mais importantes atividades agrícolas do Brasil, que é o maior produtor mundial. No entanto, há alguns fatores que vêm comprometendo o seu rendimento, principalmente aqueles relacionados aos aspectos fitossanitários, por exemplo, o ataque de nematoides, que são fitoparasitas limitantes ao cultivo do cafeeiro, principalmente em solos arenosos, com baixa fertilidade e deficiência hÃdrica.
Várias espécies de nematoides estão associadas à cultura do café, mas os gêneros Meloidogyne e Pratylenchus são comprovadamente nocivos. Há uma estimativa de que a redução da produção mundial de café, devido à ação dos nematoides, seja, em média, de 15%. No Brasil, estima-se um valor médio de 20%. Na Tabela 1 constam os principais nematoides encontrados no Brasil.
Tabela 1 ““ Principais espécies de Meloidogyne associadas ao cafeeiro no Brasil e sua distribuição geográfica
Espécie | Distribuição geográfica |
M. exÃgua | Amplamente disseminada em todas as regiões cafeeiras |
M. caffeicola | Minas Gerais, Paraná e São Paulo |
M. incognita | Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e São Paulo |
M. hapla | São Paulo |
M. paranaensis | Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo |
Fonte: Boletim Técnico – Nematoides Parasitos do Cafeeiro (Instituto Biológico, 2018)
Danos
Por ser uma cultura perene, o cafeeiro propicia condições para o aumento da população de nematoides praticamente durante o ano todo, podendo afetar todas as fases fenológicas do cafeeiro.
Por esses motivos, o decréscimo nas produtividades tem se tornado um dado frequente nas lavouras cafeeiras infestadas por fitonematoides. Na literatura, há evidências que, ao realizar o controle deste patógeno, o potencial produtivo das plantas pode aumentar.
Santinato et al. (2013), realizando o controle químico de Meloidogyneexigua em mudas de café, observaram aumento de 76% no volume de raízes. Este maior volume propicia aumento significativo na absorção de água, macro e micronutrientes. Resultados como estes vêm respaldando o controle deste patógeno em lavouras cafeeiras.
Ao atacar o sistema radicular do cafeeiro, os nematoides tornam as plantas fracas e improdutivas, dificultando a absorção de água e sais minerais, causando morte das raízes, queda das folhas, diminuição da produção e até a morte das plantas. Interferem também no controle da ferrugem e do bicho mineiro, quando se usam produtos (fungicida+inseticida) via solo.
Pesquisas
Diversos estudos demonstram a importância de se proceder ao controle dos nematoides na cafeicultura. Sabe-se também que existem várias metodologias disponíveis para aplicar os nematicidas, como via drench, considerada a mais comum.
Entretanto, com a ampliação das áreas irrigadas, profissionais estão posicionando a aplicação de nematicida via gotejo. Diante disso, conduziu-se um experimento de campo com o objetivo de avaliar o uso do Nimitz aplicado via gotejo no controle de nematoides no cafeeiro.
O ensaio foi conduzido em duas lavouras (3ª e 8ª safra), localizadas no município de Varjão de Minas (MG), sendo composto por sete tratamentos, dentre eles o controle, sem aplicação de nematicida e cinco doses de Nimitz (1,0; 1,5; 1,75; 2,0 e 2,5 l ha-1) aplicado via gotejo e o controle positivo, com a aplicação de Cadusafós via drench.
Irrigação
A irrigação foi realizada pelo sistema de gotejamento, sendo este superficial. Anteriormente à aplicação dos tratamentos, foi realizada uma avaliação do sistema de irrigação por gotejamento, com a determinação da uniformidade de aplicação de água.
Na Figura 1 consta como foram realizadas as avaliações de vazão, pressão e os resultados finais. A uniformidade ficou acima de 95%, o que permite a aplicação dos nematicidas via sistema de gotejamento com excelente distribuição.
Figura 1 ““ Avaliação do sistema de irrigação por gotejamento
O manejo da irrigação foi feito a partir de medições de temperatura e precipitação, calculando-se o balanço hídrico climatológico. A variedade na qual o experimento foi conduzido é a Catuaà IAC 144.
A lavoura nova está na 3ª safra, em produção, plantio realizado em abril de 2012, no espaçamento 4,00 x 0,50 m (estande de 5.000 plantas ha-1). A lavoura mais antiga está na 8ª safra, plantio realizado em 2007, no espaçamento 4,00 x 0,50 m (estande de 5.000 plantas ha-1). Nas Tabelas 1 e 2 constam avaliações dos nematoides nas duas lavouras antes do início do experimento.
Tabela 1. Presença de Meloidogyne exigua1 na lavoura nova, antes da instalação do ensaio, em novembro de 2015
Blocos | ……. Região do bulbo do gotejador ……. | |||
Meloidogyneexigua J2 | Ovos de nematoides | |||
Solo | Raiz | Solo | Raiz | |
1 | 120 | 452 | 16 | 432 |
2 | 135 | 543 | 12 | 407 |
3 | 180 | 491 | 24 | 501 |
4 | 101 | 389 | 16 | 587 |
5 | 95 | 476 | 36 | 540 |
Blocos | ….. Região a 30 cm do bulbo do gotejador …… | |||
Meloidogyneexigua J2 | Ovos de nematoides | |||
Solo | Raiz | Solo | Raiz | |
1 | 34 | 104 | 8 | 8 |
2 | 32 | 89 | 4 | 0 |
3 | 46 | 75 | 0 | 12 |
4 | 29 | 98 | 4 | 8 |
5 | 45 | 82 | 4 | 25 |
1Extração de nematoides pela técnica da centrifugação em solução de sacarose, seguida de observação em microscópio ótico (Jenkins/Coolen&Hard ““ (100 cm3) de solo (10g) de raízes). Data da coleta – novembro de 2015
Tabela 2. Presença de Meloidogyne exigua1 na lavoura velha, antes da instalação do ensaio, em novembro de 2015
Blocos | ……. Região do bulbo do gotejador ……. | |||
Meloidogyneexigua J2 | Ovos de nematoides | |||
Solo | Raiz | Solo | Raiz | |
1 | 154 | 358 | 24 | 542 |
2 | 165 | 445 | 20 | 465 |
3 | 125 | 545 | 15 | 405 |
4 | 115 | 425 | 18 | 524 |
5 | 101 | 385 | 12 | 425 |
Blocos | ….. Região a 30 cm do Bulbo do gotejador …… | |||
Meloidogyneexigua J2 | Ovos de nematoides | |||
Solo | Raiz | Solo | Raiz | |
1 | 25 | 85 | 4 | 12 |
2 | 30 | 95 | 8 | 6 |
3 | 28 | 70 | 0 | 4 |
4 | 22 | 94 | 6 | 8 |
5 | 25 | 75 | 4 | 12 |
1Extração de nematoides pela técnica da centrifugação em solução de sacarose, seguida de observação em microscópio ótico (Jenkins/Coolen& Hard ““ (100 cm3) de solo (10g) de raízes). Data da coleta – novembro de 2015