José Braz Matiello
Alysson Vilela Fagundes
Engenheiros agrônomos do Mapa/Procafé
A ação do gesso (sulfato de cálcio), como indutor do maior desenvolvimento do sistema radicular do cafeeiro em profundidade, está relacionada com o fornecimento de cálcio e enxofre, com o carreamento de bases em profundidade, promovendo, ali, a neutralização do alumÃnio e disponibilizando essas bases em camadas mais profundas.
A indicação de uso do gesso muitas vezes superestima seus efeitos, fazendo crer que o produto resolve ou traz vantagens para todos os casos. No entanto, na sua recomendação devem ser observados os resultados experimentais de seu uso em cafezais.
Detalhes do manejo
O gesso deve ser usado, em doses adequadas,quando a saturação de alumÃnio livre em profundidade (amostras de 20 a 40 cm) for superior a 30%. Pode ser indicado, também, para fornecer cálcio em profundidade, quando a análise de solo mostrar essa necessidade, ou seja, quando o teor de cálcio for menor que 0,5 Cmol/dm3.
O sistema de uso de altas doses de gesso preconiza a aplicação, logo após o plantio do cafeeiro, de uma camada junto à faixa próxima e ao longo da linha de plantas de café, em doses acima de 20 t/ha.
Custo
O custo envolve a aquisição e a aplicação de uma grande dose de gesso, antes muito barato, mas nos últimos anos essa realidade vem mudando.Além disso, existe um custo paralelo, de correção do magnésio e do potássio, já que o gesso adiciona ao meio uma grande quantidade de cálcio, e as aplicações dos demais nutrientes precisam ser feitas para evitar esse desequilíbrio.
Investimento x retorno
O emprego de altas doses de gesso traz altos custos e pouco ou nada de beneficio em termos de produtividade à lavoura de café. O uso do produto, em pequenas doses, ao contrário, é mais econômico e não causa desequilíbrios.
Com os tratos nutricionais normais, utilizando-se os corretivos comuns, como o calcário e, se necessário, complemento com pequenas doses de gesso, são obtidas boas produtividades, sem diferenças em relação ao uso de doses elevadas, estas quando equilibradas. Caso não se faça o equilíbrio, as altas doses tendem a reduzir a produtividade.
Erros
Os erros mais frequentes ainda estão no uso de altas de gesso, sem equilibrar com o uso de fontes de magnésio e potássio. Para evitá-los, é importante que o produtor faça análises de solo que mostrem a situação das bases no solo, e também aplique os nutrientes faltantes ou em desequilíbrio.
Resultados
Os resultados da análise de solo e de produtividades obtidas em experimento mostram que ocorre um desequilíbrio que aumenta com a dose de gesso utilizada, e que na produção, mesmo realizadas as aplicações complementares, de Mg e K, não ocorre aumento significativo da produtividade da lavoura de café, isto avaliado em sete safras, como se observa nas tabelas a seguir.
Tabela 01 – NÃveis de cálcio, magnésio e potássio no solo,nas camadas de 0 a 20 ede 20 a 40cm, e níveis foliares de Ca e Mg em cafeeiros, aos 24meses de campo, sob efeito de diferentes doses altas de gesso, como irrigação branca. Boa Esperança (MG), 2008.
Tratamentos
Doses de gesso, kg/m de linha |
NÃveis de nutrientes no solo, em duas profundidades (Cmolc/dm3) | NÃveis de nutrientes nas folhas, em % | ||||||
0 a20 cm | 20 a40 cm | |||||||
Ca | Mg | K | Ca | Mg | K | Ca | Mg | |
0 | 1,73 b | 0,63 a | 68 a | 1,01 b | 0,41 a | 49,3 a | 0,88 b | 0,22 a |
1,5 | 2,84 b | 0,33 b | 56 a | 1,8 b | 0,17 b | 35,3 a | 0,83 b | 0,18 b |
3 | 3,1 b | 0,21 b | 46,7 b | 3,17 a | 0,17 b | 36 a | 0,85 b | 0,18 b |
4,5 | 6,6 a | 0,21 b | 50 b | 3,5 a | 0,12 b | 32 b | 1,00 a | 0,17 b |
6 | 6,5 a | 0,15 c | 39,3 b | 3,6 a | 0,1 b | 32 b | 1,02 a | 0,16 b |
7,5 | 18,8 a | 0,14 c | 41,3 b | 16,3 a | 0,08 c | 26 b | 1,03 a | 0,14 b |
9 | 24,5 a | 0,13 c | 28,7 b | 16,6 a | 0,08 c | 26 b | 1,01 a | 0,17 b |
Fonte: Fagundes A.Vetalli, Anais do 35º CBPC, Mapa/Procafé, 2009, p. 75.
Tabela 02 – Produtividade média, em sacas/ha, nas safras de 2009 a 2015, dos tratamentos submetidos a diferentes doses elevadas de gesso, Boa Esperança (MG), 2015
Tratamentos
Doses de gesso |
Produtividade (sacas/ha) | |||||||
2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | Média | |
Testemunha | 12,2 | 71,3 | 12,2 | 48,5 | 59,4 | 21,4 | 37,7 | 37,5 |
1,5 Â kg/m (4,3 ton/ha) | 9,9 | 68 | 18,1 | 52,6 | 64,3 | 28,2 | 17,9 | 37,0 |
3,0 Â kg/m (8,6 ton/ha) | 8,4 | 71,7 | 9,1 | 51,2 | 58,1 | 28,0 | 24,7 | 35,9 |
4,5 Â kg/m(12,9 ton/ha) | 14,6 | 58,5 | 9,5 | 50,3 | 55,7 | 23,9 | 30,5 | 34,7 |
6,0 Â kg/m(17,1 ton/ha) | 7,5 | 61,2 | 9,9 | 58,5 | 55,7 | 21,6 | 29,1 | 34,8 |
7,5 Â kg/m (21,4 ton/ha) | 14,8 | 70,9 | 12,2 | 48,5 | 64,3 | 26,0 | 38,1 | 39,3 |
9,0 Â kg/m (25,7 ton/ha) | 15 | 66,7 | 8,62 | 54 | 55,7 | 23,7 | 39,6 | 37,6 |
Fonte ““ Fagundes A, V. etalli, In Anais do 41ºCBPC, Fundação Procafé, 2015 p. 142