Anderson Gonçalves da Silva
Doutor, professor do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas (GEMIP) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Paragominas (PA)
agroanderson.silva@yahoo.com.br
Gustavo Antônio Ruffeil Alves
Doutor e professor do Núcleo de Estudos Aplicados em Fitopatologia (NEAFito) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e membro do GEMIP, campus Paragominas
O feijão (Phaseolusvulgaris L.) é um dos mais importantes componentes da dieta alimentar do brasileiro, por ser reconhecidamente uma excelente fonte proteica, além de possuir bom conteúdo de carboidratos, vitaminas, minerais, fibras e compostos fenólicos com ação antioxidante que podem reduzir a incidência de doenças.
O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, e o Paraná o maior Estado produtor, respondendo por, aproximadamente, 25,5% da produção total nacional, seguido por Minas Gerais, com 17,6%, e Bahia, com 7,6%, levando em consideração as três safras, “das águas“, “da seca” e “de inverno“ (CONAB, 2015).
Doença
O mofo branco causado pelo fungo Sclerotiniasclerotiorum é, atualmente, uma das principais doenças da cultura do feijão pelos prejuízos ocasionados nas últimas safras e pela dificuldade de controle.
O fungo tem como hospedeiros mais de 400 espécies pertencentes a, aproximadamente, 200 gêneros botânicos. Entre as mais importantes culturas estão, além da soja, o feijão, o girassol, o algodão, o tomate industrial, a batata e algumas outras hortaliças.
A disseminação se dá principalmente pelas sementes, que podem estar infectadas com o micélio do fungo, ou por meio da contaminação, devido à presença de estruturas de sobrevivência denominadas de escleródios.
As condições de clima favoráveis para seu desenvolvimento são alta umidade e temperaturas amenas. Na ausência de hospedeiro suscetÃvel o fungo pode persistir por um longo período no solo por meio das suas estruturas de resistência (escleródios), caracterizadas pela sua dureza e coloração escura, com forma semelhante a fezes de rato, que sobrevivem imersos no solo por um período médio de cinco anos ou mais, podendo chegar a até 10 anos.
Severidade
Em atenção ao feijoeiro, esta doença comumente é bastante severa no cultivo “de inverno“ sob irrigação, em especial por pivô central. As condições de clima favoráveis para seu desenvolvimento são alta umidade e temperaturas amenas. Nessa situação, uma lavoura de feijão pode sofrer, em média, perdas de 30% ou mais, podendo chegar a 100% em períodos chuvosos e quando medidas preventivas não são tomadas.
Sintomas
Os sintomas iniciais são lesões encharcadas nas folhas ou outro tecido da parte aérea que normalmente tenha contato com as flores infectadas. As lesões espalham-se rapidamente para as hastes, ramos e vagens. Nos tecidos infectados aparece uma eflorescência que lembra algodão, constituindo os sinais caracterÃsticos da doença.
Até o feijoeiro florescer, dificilmente a doença torna-se importante; mas depois que a florada cai, a doença é disseminada rapidamente porque a flor é fonte primária de energia, servindo de alimento para o fungo iniciar a infecção.
Não há disponibilidade de feijão resistente ao mofo branco, medida que seria a mais indicada e econômica para o manejo da doença.
Controle
Os métodos de controle do mofo branco, por serem limitados, devem ser tomados em conjunto para se tornarem mais eficientes. Primeiramente, deve-se fazer todo o possível para impedir a entrada do patógeno em áreas onde a doença ainda não foi observada, pois, uma vez presente, é muito difícil erradicá-lo. É essencial o uso de sementes sadias, certificadas, de procedências conhecidas e tratadas com fungicidas recomendados e registrados para a cultura epara as doenças.
Deve-se, também, proceder à limpeza minuciosa dos implementos agrícolas, principalmente no caso de terem sido utilizados em áreas onde a doença já tenha sido constatada, e evitar condições ambientais que favoreçam o desenvolvimento do patógeno.
Para a realização de um manejo integrado de doenças, faz-se necessário conhecer o ciclo da doença, o histórico da área, o sistema de cultivo, as variações climáticas características do local, a realidade do produtor e definir as táticas agronômicas.
Essas táticas significam reduzir a população do patógeno na área, a taxa de progresso da doença, aumentar a resistência das plantas e modificar o ambiente, tornando-o desfavorável à doença e favorecendo antagonistas para o controle biológico.
Práticas agronômicas, tais como manejo de irrigação, densidade de plantas e hábitos de crescimento são estreitamente relacionados com o ciclo de vida do patógeno e manejo da doença. A avaliação da gama de agressividade das populações de S. sclerotiorum no cultivo do feijoeiro e o monitoramento de ano para ano alterando a estrutura da população no interior do cultivo podem contribuir para uma eficiente estratégia de manejo para controlar a doença causada por S. sclerotiorum nesta cultura.