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Plantio consorciado com macadâmia melhora produtividade do cafezal

Cássio Pereira Honda Filho

Engenheiro agrônomo e mestrando em Fisiologia Vegetal ““ Universidade Federal de Lavras (UFLA)

cassiop.hondafv@gmail.com

Mariana Thereza Rodrigues Viana

Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – UFLA

Crédito Pixabay
Crédito Pixabay

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, porém, tem-se observado a diminuição das áreas plantadas devido ao aumento recente dos custos de produção da cultura e das baixas produtividades das lavouras tradicionais. Além disso, o aumento da temperatura média tende a fazer com que algumas regiões produtoras se tornem impróprias para o plantio, forçando reconfigurações geográficas com sérios impactos econômicos e sociais.

Diante disso, tem sido necessário buscar alternativas para modernizar os sistemas produtivos a fim de torná-los mais sustentáveis e viáveis ao produtor. Uma dessas alternativas tem sido a utilização do consórcio de lavouras de café com diferentes culturas, o que pode melhorar a viabilidade da cafeicultura sem necessidade de altos investimentos, além de proporcionar uma renda adicional ao produtor.

Café com macadâmia

Uma das culturas mais promissoras para a consorciação com o café, é a nogueira macadâmia, árvore nativa das florestas tropicais da Austrália. Sua amêndoa é muito valorizada, podendo ser consumida crua ou torrada, sendo muito utilizada em confeitaria e sorvetes.

O cultivo de café consorciado com árvores de macadâmia ocorre desde a década de 1970 no Brasil, porém, estudos mais recentes mostraram que esse consórcio pode trazer inúmeras vantagens ao produtor, até mesmo o aumento expressivo da produtividade dos cafezais. Os resultados são ainda melhores quando o consórcio é irrigado.

Esse aumento na produtividade se deve àarborização das plantas de café proporcionado pelas árvores de macadâmia, mitigando os efeitos provocados pelas ações do calor e do vento que provocam abortamento floral e ferimentos nas folhas.

Alguns estudos mostram que a utilização da macadâmia pode diminuir em 72% a velocidade dos ventos e em 2,2ºC a temperatura média do ar, comparada à monocultura. Além disso, a macadâmia possui raízes mais profundas que as do cafeeiro. Assim, elas resgatam nutrientes que já estavam perdidos, promovendo uma maior ciclagem destes.

Com a queda e decomposição das folhas há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis, promovendo um melhor ambiente para o desenvolvimento do café.

Outras vantagens do cultivo de café consorciado com macadâmia é a preservação da fertilidade do solo, promoção da biodiversidade, defesa da lavoura contra algumas espécies de plantas daninhas, otimização do uso da terra, aumento da renda do produtor, pois, ocorre ganho de produtividade nas duas culturas, proteção dos cafezais contra os riscos climáticos, como altas exposições ao sol, geadas e ventos.

Há, ainda, redução da bienalidade de produção do café, proporcionando também um melhor aproveitamento de mão de obra, já que as colheitas ocorrem em diferentes épocas. Alguns estudos ainda relatam que cafeeiros sombreados proporcionam uma maturação mais lenta dos frutos, podendo se tornar um café de melhor qualidade.

Crédito Pixabay
Crédito Pixabay

Manejo próprio

Para se obter o aumento da produção com a utilização da consorciação e aproveitar todas as vantagens que o sistema oferece é necessário atentar ao manejo adequado. Se o objetivo do produtor for sombrear o café e aumentar a renda, a implantação da macadâmia pode ser feita no cafezal já existente.

O plantio também pode ser feito em conjunto, com a finalidade de esperar a produção da noz, que demora pelo menos cinco anos para iniciar a produção e apenas quando atinge 12 anos se torna rentável.Assim, após o início da produção da macadâmia esse café pode ser retirado do campo.

Outra alternativa seria implantar o café em conjunto com a macadâmia e conduzir as duas culturas ao mesmo tempo. Estudos mostram que a melhor forma de implantar as culturas seria duas linhas de café solteiro, uma linha com seis plantas de café e uma planta de macadâmia, afim de facilitar o manejo das culturas e proporcionar um sombreamento adequado ao cafezal.

Na implantação, é necessário adequar um estande mínimo para cada cultura, de forma que a disposição das plantas não atrapalhe a mecanização do cultivo.

É necessário que se faça podas nas árvores de macadâmia, quando o sombreamento estiver excessivo no café, evitando a diminuição da produção. A macadâmia é mais fácil de ser conduzida ao longo do sistema de produção, diferentemente do café, que tem o manejo um pouco mais complexo.

 A macadâmia aumenta a produtividade cafeeira - Crédito Alltech
A macadâmia aumenta a produtividade cafeeira – Crédito Alltech

Mais vantagens

Além da vantagem em relação à manutenção da fertilidade do solo, o consórcio apresenta vantagens em relação ao aproveitamento dos nutrientes advindos da adubação. Com esse maior desenvolvimento radicular apresentado pela macadâmia, ela consegue resgatar nutrientes que já estavam “perdidos“ para os cafeeiros.

Sendo assim, com a senescência e consequente queda das folhas da macadâmia há o aumento da matéria orgânica e de nutrientes disponíveis no solo, melhorando o ambiente para os cafeeiros.

Apesar de todas as vantagens sobre esse plantio consorciado, a colheita a ser adotada é manual. O uso dessa nogueira dificulta a mecanização da colheita do café e na ausência de um adequado manejo de podas pode provocar diminuição da produtividade dos cafeeiros.

Obstáculos

A principal dificuldade enfrentada para a expansão da macadâmia no Brasil é o elevado período de retorno do investimento ““ a noz começa a produzir depois de cinco anos e apenas quando atinge 12 anos tem produção rentável, de 15 quilos de noz por planta.

Quando consorciada com o café irrigado, a cultura começa a produzir dois anos mais cedo e aos três anos já tem produção comercial.

 

Essa matéria você encontra na edição de junho de 2018 da Revista Campo & Negócios Grãos. Adquira o seu exemplar.

 

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