A qualidade do trigo produzido em Minas Gerais conquistou o mercado consumidor, desde a grande indústria moageira até a panificação artesanal. O trigo também é aposta para os produtores que, apesar dos problemas com o clima nesta safra, investem no cereal como a melhor opção para a rotação de culturas na região
A safra de trigo em Minas Gerais encerrou com as últimas colheitas no mês de setembro, atingindo um volume de 208,3 mil toneladas, semelhante ao da safra passada (Conab), mas abaixo das expectativas do setor produtivo, que esperava um volume de grãos cerca de 20% maior.
De acordo com a Embrapa Trigo, a principal causa para a queda de produtividade foi a incidência da brusone, que afetou muitas lavouras ainda no desenvolvimento vegetativo, quando o clima quente e úmido favoreceu a doença, associado ao volume de chuvas acima da média e ao maior número de dias com chuva nos meses de março e abril. Além disso, chuvas isoladas no mês de maio favoreceram a ocorrência de brusone também na fase reprodutiva.
Importação ainda persiste
O pesquisador da Embrapa Trigo Vanoli Fronza frisa que o Brasil é um país que importa pelo menos 50% de todo o trigo que consome (um total de cerca de 11 milhões de toneladas por ano) e que cerca de 90% do trigo produzido nacionalmente está na região sul (PR, SC e RS).
De acordo com a estimativa da Conab/dezembro de 2019, o consumo brasileiro anual atual deve ser de aproximadamente 11.500.000 toneladas. Dados da Associação Brasileira de Triticultores (Abitrigo) revelam que até novembro de 2019 o Brasil importou 5.820.769,84 toneladas de trigo, ao custo de US$ 1.342.319.140,00, constituindo um preço médio de US$ 230,61/tonelada.
Os maiores exportadores de trigo para o Brasil são Argentina (60%), EUA (21,3%), e Canadá (7,73%). Minas Gerais importou 170,8 mil toneladas, correspondendo a apenas 2,93% do total importado pelo País. Nos últimos anos, as indústrias do setor em Minas Gerais buscam primeiro a compra do trigo produzido no Estado por ser colhido mais cedo, pela excelente qualidade e também por questões de logística mais barata no transporte.
“O fato de o consumo mineiro e brasileiro ser muito superior à oferta interna dá ao nosso triticultor a convicção de liquidez do grão no mercado. O trigo de Minas Gerais e do Cerrado Brasileiro vem ganhando a preferência das indústrias nos últimos anos. O que não podemos deixar de ter em mente é que não basta produzir, é preciso ter trigo qualidade”, enfatiza Maurício Antônio de Oliveira Coelho, doutor Fitotecnia e pesquisador da Epamig.
Qualidade superior
A triticultura na região central do Brasil se diferencia da tradicional brasileira praticada na região sul principalmente pelas condições climáticas ocorridas durante o ciclo da cultura. Enquanto no Sul do Brasil as lavouras de trigo se desenvolvem sob condições de baixas temperaturas, alta pluviosidade e alta umidade relativa do ar, na região central do País as lavouras são conduzidas sob temperaturas moderadas, pouca chuva e baixa umidade relativa do ar.
Segundo Maurício Coelho, essas condições climáticas do Cerrado no inverno também desfavorecem a maioria das doenças da cultura, propiciando que o trigo produzido em Minas Gerais e em outras regiões do Cerrado Brasileiro normalmente apresente qualidade superior ao produzido no Sul do Brasil e, principalmente ao importado. “O termo “qualidade do trigo” deve ser analisado sob dois aspectos extremamente relevantes: o tecnológico, e o sanitário”, aponta o especialista, que explica a seguir sua afirmação.
Do ponto de vista tecnológico, um trigo de qualidade é aquele que possui características físico-químicas e reológicas (análises complementares que caracterizam a farinha de trigo) apropriadas para determinado uso (panificação, uso doméstico, massas alimentícias, bolachas e biscoitos).
Essas características, melhores ou piores, são intrínsecas de cada cultivar, mas podem ser afetadas pelo clima, pelo solo e pelo complexo de doenças que podem acometer determinada lavoura. O cultivo do trigo em Minas Gerais e no Brasil Central normalmente ocorre entre os meses de março e agosto.
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