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Por que querem proibir a pulverização aérea?

A aviação agrícola tem papel fundamental no aumento de ganho de produtividade, pela sua natureza de rápida e eficaz cobertura. Sem dúvida, a aplicação aeroagrícola funciona e é uma ferramenta valiosa na agricultura, quando realizada dentro de critérios técnicos bem definidos e acompanhada por pessoal técnico especializado

 

 CréditoShutterstock
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As grandes extensões de lavouras e o porte de algumas culturas fazem da pulverização aérea de defensivos agrícolas um método imprescindível para o agronegócio brasileiro, na avaliação do engenheiro agrônomo Ulisses Antuniassi, professor do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que defende a manutenção e o aperfeiçoamento dessa técnica.

“A proibição da pulverização aérea é uma medida desproporcional. Ela não tem cabimento dentro do contexto de um País agrícola tão importante. Se numa eventualidade houvesse uma proibição, teríamos um prejuízo muito grande para culturas que não têm outras opções. Entendo que a aplicação aérea não deve ser proibida. Ela deve ser regulamentada e fiscalizada“.

Segundo Fábio YoshioKagi, gerente de inovação e sustentabilidade da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), há diversos movimentos sociais que pleiteiam o fim do uso dos defensivos agrícolas, sob a alegação de que estes produtos trazem riscos inaceitáveis à saúde humana e ao meio ambiente, utilizando ferramentas alarmistas e informações pseudocientíficas.

“Em todas as comunicações destes movimentos, o avião é utilizado como símbolo de contaminação, o que está muito longe de ser verdadeiro. A figura do avião é emblemática e tornou-se uma das bandeiras destes movimentos, portanto, proibir o uso de aviões seria quase que uma imagem de vitória. Não se trata, portanto, de um movimento suportado por dados que corroborem e justifiquem um medo a uma técnica de aplicação que tem índices de acidentes extremamente baixos. Neste caso, é facilmente observável que o preconceito é filho da ignorância, conforme um dia dito por William Hazlitt“, avalia o especialista.

Dentro de um processo democrático, ele concorda que é natural que haja amplo debate sobre as questões que afligem a sociedade. “Tal debate, porém, deve ser realizado mediante fatos concretos, não devendo levar em conta deduções fantasiosas“, argumenta.

Uma das alegações utilizadas é a de que a pulverização aérea é incontrolável e atinge facilmente as áreas não-alvo. Esta alegação é fruto do desconhecimento das ferramentas de localização por satélite, que inclusive já dão a possibilidade dos aviões serem pré-programados eletronicamente para jamais permitirem a pulverização de uma área não-alvo.

Se a proibição da aviação agrícola se concretizasse, Fábio Yoshioafirma que viria junto, basicamente, a inviabilização da agricultura como a conhecemos. “Significa acabar com a competitividade do agronegócio brasileiro por mero preconceito gerado por desconhecimento“.

Sem a aviação, a agricultura se tornaria inviável em grandes áreas - Crédito Shutterstock
Sem a aviação, a agricultura se tornaria inviável em grandes áreas – Crédito Shutterstock

Sem rodeios

O pesquisador Antuniassi explica que a pulverização aérea é uma atividade complementar aos outros métodos e utilizada quando há restrições à aplicação terrestre. “Depois que a cana-de-açúcar atinge um porte grande, por exemplo, fica difícil e mesmo impossível utilizar outros métodos. Então, a pulverização aérea é fundamental. Em outras culturas, em geral, ela é muito desejada quando o produtor precisa fazer o tratamento rápido e eficiente diante do surto de uma praga ou doença. Quando a opção é pelo uso do produto fitossanitário, a aplicação aérea tem a vantagem de permitir que o trabalho seja rápido“.

Outro exemplo citado pelo professor é o da sigatoka-amarela que atinge as bananeiras. Pelo porte alto das plantas, a pulverização aérea representa melhor custo-benefício para o produtor e também para o meio ambiente. “A aplicação com equipamentos terrestres na cultura da banana se torna ineficiente e de grande impacto ambiental. Se for aplicar o produto com equipamento terrestre, isso é feito de baixo para cima. Então, muito produto é jogado no ambiente. Quando se tem a possibilidade de fazer a aplicação aérea, é jogada uma menor quantidade de calda (diluição dos produtos químicos em água ou outro tipo de solvente) e, com isso, temos um tratamento mais eficiente e com menos impacto ambiental“, justifica.

A pulverização aérea de agrotóxicos responde hoje por cerca de 25% das aplicações - Crédito Jorge Verde
A pulverização aérea de agrotóxicos responde hoje por cerca de 25% das aplicações – Crédito Jorge Verde

Peso nacional

Segundo Antuniassi, a pulverização aérea de agrotóxicos responde hoje por cerca de 25% das aplicações realizadas no Brasil, mas, dependendo da cultura, o uso da técnica pode chegar a 100%, como no caso da banana e da cana-de-açúcar.

A Unesp, em conjunto com as universidades federais de Lavras (UFLA) e de Uberlândia (UFU), coordena a Certificação Aeroagrícola Sustentável, programa que visa incentivar boas práticas na aviação agrícola para tornar a pulverização de defensivos mais eficaz. Antuniassi destaca que o atendimento às regras do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reduz os impactos da deriva a quase zero.

“A questão de obedecer ou não à normativa está muito ligada a seguir o que chamamos de conceitos de boas práticas nas empresas de aplicação aérea. Elas passam por um treinamento, e talvez o principal fator a considerar seja obedecer a essas regras e às faixas de segurança (que ficam de 250 a 500 metros da área que receberá a aspersão de defensivos). Temos casos em que as regras não são seguidas, mas isso não é generalizado, são situações isoladas. Os acidentes que ocorrem são poucos, porque as empresas estão cientes de que a sociedade observa e critica“.

No Brasil, segundo ele, 54% das empresas de aviação agrícola já são certificadas. Em São Paulo, esse número chega a 90%. Na região nordeste, apenas quatro empresas em dois Estados adotam as boas práticas ensinadas pelo programa: Maranhão, com três empresas, e Alagoas, com uma.

Essa matéria completa você encontra na edição de outubro 2016 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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