Roberto Santinato
Engenheiro agrônomo da Santinato&Santinato Cafés Ltda
Felipe Santinato
Engenheiro agrônomo Santinato&Santinato Cafés Ltdae doutorando UNESP Jaboticabal
Reginaldo Oliveira Silva
Gerente do Campo Experimental da ACA
A palha de café é a fonte de matéria orgânica mais disponível e econômica nas propriedades cafeeiras, quer quando o café é beneficiado na mesma, quer quando retorna do beneficio fora da própria.
Cada saca beneficiada de 60,5 kg produzida gera cerca de 50 a 60 kg de palha de café, possuindo alto teor de potássio, além de N, P e S. É, portanto, compensatório o seu uso objetivando a redução proporcional de seus nutrientes da adubação mineral, notadamente o potássio. Além do efeito nutricional, devemos ainda considerar, como citado pela literatura, os efeitos benéficos para as propriedades físicas, físico-químicas, químicas e biológicas do solo.
A palha de café, por se tratar de um material orgânico, tem grandes variações em sua composição. Mas, normalmente, os teores nutricionais desse material são aproximadamente de: 1% de N; 0,3% de P2O5; 3,5% de K2O; 0,7% de S e relação C/N ao redor de 30.
Trabalhos de campo
Nos últimos anos nossa equipe realizou alguns trabalhos de grande importância para o cafeicultor no que se diz respeito à utilização deste composto, definindo doses e o manejo adequado. O primeiro trabalho foi instalado desde o plantio do cafeeiro, no município de Araxá (MG).
As doses testadas foram:0 (T1); 2,5 (T3); 5,0 (T4); 10,0 (T5) e 20,0 (T6) t ha-1 de palha de café, além do padrão mineral (T2). As aplicações foram realizadas inicialmente no sulco de plantio e em cobertura até a 6ª safra avaliada, adicionando-se a palha em faixas de 70 a 80 cm de largura de cada lado da linha de café.
Vale ressaltar, talvez, o item mais importante do trabalho, que são as doses dos fertilizantes minerais utilizados normalmente na condução da lavoura. Elas tiveram reduções conforme os teores dos nutrientes contidos em cada dose de palha de café adicionada, em cada tratamento (Tabela 1).
Tabela 1. Discriminação dos insumos utilizados na adubação dos cafeeiros de 0 a 90 meses de condução
Insumos | Doses (t ha-1) | |||||
T1 | T2 | T3 | T4 | T5 | T6 | |
1- Calcário DolomÃtico | 4,0 | 7,2 | 5,9 | 4,9 | 5,1 | 4,6 |
2- Yoorim Master II S | 0,0 | 1,25 | 1,18 | 1,11 | 1,04 | 0,97 |
3- Ureia | 0,0 | 4,9 | 4,6 | 3,03 | 1,2 | 1,0 |
4- Sulfato de Amônio | 0,0 | 4,1 | 3,4 | 2,6 | 2,3 | 2,2 |
5- Cloreto de Potássio | 0,0 | 3,91 | 2,9 | 2,7 | 0,8 | 0,0 |
6- MAP | 0,0 | 1,1 | 0,8 | 0,7 | 0,5 | 0,1 |
7- Palha de Café | 0,0 | 0,0 | 20,0 | 40,0 | 80,0 | 160,0 |
A tabela 2 reúne os resultados obtidos até a 6ª safra sem a catação. Pelo mesmo verificamos a importância da adubação NPKS, que quando ausente (T1) reduziu significativamente a produtividade em 48% com relação ao tratamento com adubação exclusivamente mineral, na média das seis safras.
Osdemais tratamentos foram superiores em produtividade à testemunha de 48 a 67%. A palha de café associada à adubação mineral reduzida (T3, T4, T5 e T6) tiveram produtividades superiores à adubação exclusivamente mineral.
Essa superioridade de 16 a 18% provavelmente se deve à liberação lenta dos nutrientes NPKS contidos na palha, além da melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
Na análise do solo, verificou-se que o teor de matéria orgânica se eleva a partir da dose de 5,0 t ha-1 de palha de café, sendo que o mesmo ocorre com o V%, CTC. O P e S não sofrem alterações significativas. Com relação aos micronutrientes, o boro tende a subir e o cobre, zinco e manganês a diminuir na dose maior de palha de café.
Tabela 2.Adubação orgânica na formação e produção do cafeeiro cultivado em solo de Cerrado com doses crescentes de palha de café associadas à adubação mineral reduzida proporcionalmente aos nutrientes NPKS contidos na palha
Tratamentos | Produtividade (sacas de café beneficiadas ha-1) | |||||||
       Catação |   R% | 1ª safra | R% | 2ª safra | R% | 3ª safra |    R% | |
T1 (Testemunha) | 1,2 a | -18 | 28,6 c | -55 | 25,0 a | -30 | 39,7 c | -48 |
T2 (AMT) | 2,3 b | 100 | 63,3 b | 100 | 35,9 b | 100 | 75,5 ab | 100 |
T3 | 2,7 b | +17 | 70,6 ab | +11 | 41,2 b | +15 | 85,0 a | +12 |
T4 | 3,7 c | +60 | 78,1 a | +23 | 45,6 b | +27 | 94,5 a | +25 |
T5 | 3,1 bc | +35 | 80,8 a | +28 | 42,8 b | +19 | 95,7 a | +27 |
T6 | 2,7 bc | +17 | 76,8 ab | +21 | 39,7 b | +10 | 82,7 a | +9 |
CV (%) | Â Â Â Â 18,71 | Â Â 26,43 | Â Â 24,85 | Â Â Â 21,26 |
Tratamentos | Produtividade (Sacas de café beneficiadas ha-1) | |||||||
       4ª safra |   R% | 5ª safra | R% | 6ª Safra | R% | Média 6 safras |   R% | |
T1 (Testemunha) | 21,2 a | +30 | 23,1 c | -68 | 21,2 a | +7 | 26,4 b | -44 |
T2 (AMT) | 16,2 a | 100 | 70,6 ab | 100 | 19,8 a | 100 | 46,8 a | 100 |
T3 | 22,8 a | +40 | 91,5a | +29 | 15,7 a | -21 | 54,4 a | +16 |
T4 | 17,1 a | +5 | 69,4 ab | -2 | 23,4 a | +18 | 54,6 a | +17 |
T5 | 20,3 a | +25 | 69,7 ab | -1 | 21,8 a | +10 | 55,1 a | +18 |
T6 | 25,8 a | +59 | 83,1 ab | +17 | 24,5 a | +23,7 | 55,4 a | +18 |
CV (%) | Â Â Â 65,11 | Â Â Â 27,83 | Â Â Â 31,63 | Â Â Â Â Â Â 18,43 |
*Tratamentos seguidos das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.        Â
**Obs1: No calculo da média não foram considerados os valores obtidos pela catação.
***Obs2: Na 4ª safra ocorreu déficit hídrico elevado (2010/11)