Alderi EmÃdio de Araújo
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e pesquisador da Embrapa Algodão
Sandra Maria Morais Rodrigues
Engenheira agrônoma, doutora em Entomologia e pesquisadora da Embrapa Algodão
A planta de algodoeiro é hospedeira de uma gama significativa de pragas e doenças que podem atacar todas as suas partes e causar sérios danos e prejuízos econômicos à lavoura. As pragas afetam a planta em todas as fases de seu desenvolvimento, o mesmo ocorrendo com as doenças. Entretanto, há um conjunto desses problemas que ocorre nas fases iniciais do cultivo, inclusive no período de pré-emergência das plântulas.
Embora a planta de algodão possua diferentes fases fenológicas, elas poderiam ser classificadas basicamente em dois estádios: o vegetativo e o reprodutivo, sendo que o primeiro se estende desde a emergência até próximo ao primeiro botão floral visÃvel, e o segundo a partir deste até a colheita.
Pragas predominantes
Na fase vegetativa as pragas que predominam na cultura do algodoeiro são: o pulgão do algodoeiro (Aphisgossypii), o curuquerê (Alabama argilaceae), a mosca-branca (Bemisia tabaci Raça B), a lagarta mede-palmo (Trichhoplusiani) e a falsa medideira (Pseudoplusiaincludens), otripes (Frankliniellaschultzei), a lagarta-rosca (Agrostis Ãpsilon) e a principal doença é o tombamento de plântulas, causado por espécies de Pythium, Fusarium e, principalmente, por Rhizoctoniasolani.
Doenças e pragas iniciais do algodoeiro causam sérios danos ao estabelecimento da cultura, reduzindo o estande de plantas e, muitas vezes, obrigando o replantio e, com isso, elevando o custo de produção e ocasionando atraso no desenvolvimento da lavoura, que se reflete em menor produtividade.
Tratamento de sementes
O tratamento de sementes com inseticidas permite a proteção da cultura por um período próximo a 30 dias após a emergência, dependendo do efeito residual do produto.
O tratamento é importante porque mantém a planta protegida exatamente na fase em que ela se encontra mais vulnerável, que é o de estabelecimento no campo. Por outro lado, o tratamento com fungicidas evita a incidência do tombamento de plântulas, que pode ocorrer em pré e em pós-emergência.
Quando ocorre em pré-emergência, induz o apodrecimento da radÃcula logo após a germinação da semente e a plântula não emerge do solo, induzindo uma redução expressiva do estande.
O tombamento de pós-emergência também é muito comum, uma vez que, tendo emergido no solo, a plântula sem proteção pode entrar em contato com o inóculo de patógenos que se encontra na superfície do solo ou próximo a ela, e que induz à podridão do colo ou coleto, causando o tombamento.
Uma das pragas iniciais mais importantes é o pulgão-do-algodoeiro que, além de praga, atua também como vetor de viroses, sendo a mais importante a doença azul causada pelo CottonLeafRollDwarfVirus (CLRDV), que provoca danos significativos em cultivares suscetÃveis, podendo induzir a perda total da capacidade produtiva da planta.
Eficácia
É principalmente para o pulgão que o tratamento de sementes com inseticidas é direcionado. Atualmente, a maioria da área de produção do Brasil é semeada com cultivares resistentes ao CLRDV.Entretanto, é importante manter o controle do A. gossypii como praga, para evitar danos ao estabelecimento da cultura, bem como ficar atento à incidência da praga em áreas com cultivares suscetÃveis.
O controle deve se basear no monitoramento da lavoura, levando-se em consideração a necessidade de aplicação de inseticidas quando 5,0% de plantas estiverem atacadas até os 80 dias após a emergência com 01 a 06 pulgões por planta.
Esses inseticidas podem oferecer proteção contra outras pragas iniciais quando do estabelecimento da cultura, não dispensando, porém, o monitoramento de sua ocorrência, sobretudo porque, nem sempre, o espectro de ação dos produtos é amplo a ponto de permitir uma proteção segura contra todas as pragas durante os primeiros 30 dias.
Manejo acertado
O tratamento de sementes de algodão é geralmente realizado de forma industrial, utilizando equipamentos modernos e de alta precisão. Esse tratamento garante a limpeza varietal das sementes, a uniformidade de recobrimento com os produtos e precisão na dosagem, tanto dos ingredientes ativos quanto de água e adjuvantes.
Para áreas de produção menores, pode ser utilizado o tratamento feito na própria fazenda, também chamado “onfarm“. Os cuidados a serem tomados são os mesmos, porém, esse tipo de tratamento é pouco recomendável, porque as máquinas utilizadas nem sempre são as mais apropriadas, o que resulta, muitas vezes, em falhas no recobrimento, diferenças de dosagens, que podem resultar em perdas na percentagem de germinação e proteção inadequada ou mesmo mistura varietal.